Festa de Corpus Christi



Pe. Amaro Gonçalo.

1. Nesta quinta-feira, voltamos à sala de cima, ao cenáculo, à última ceia, de quinta-feira santa. Nessa altura, Jesus, prestes a partir para o Pai, pronto a dar toda a sua vida por nós, quis firmar uma aliança, um pacto de amizade connosco! E esta aliança foi selada e celebrada com o seu próprio Corpo e Sangue, isto é, com a sua própria vida, entregue até ao fim por todos nós! “Isto é o Meu Corpo entregue. Isto é o meu sangue derramado”. Como se Jesus nos dissesse: “Assim sou Eu. Dou-vos a minha vida inteira. Olhai: este pão é o meu corpo desfeito por vós; este vinho é o meu sangue derramado por todos. Não me esqueçais nunca. Fazei isto em memória de mim”. Esta é, portanto, a aliança: Jesus dá a vida por nós, para que nós saibamos dar a vida pelos outros. Celebrar a Eucaristia é dizer e fazer como Jesus fez: «Esta minha vida não a quero guardar exclusivamente para mim. Quero passar por este mundo reproduzindo em mim algo do que Jesus viveu». Este é afinal o espírito da nova aliança: Jesus fica para sempre connosco na Eucaristia dando a sua vida por nós. E nós estamos, doravante e para sempre convidados a participar desta ceia de comunhão com Ele, recebendo dEle a Vida, que queremos dar aos outros! 

2. Percebemos, assim, pelo evangelho, que este encontro misterioso com Jesus na Ceia, é importante e decisivo, para a qualidade e vitalidade da nossa amizade com Ele! E é um encontro tão importante, que Jesus insiste na necessidade de o preparar bem e atempadamente! É um encontro solene, para o qual se reserva uma sala superior alcatifada e pronta. E é, ao mesmo tempo, um encontro familiar, onde Jesus une e reúne os seus amigos mais íntimos, numa casa, que um tal dono da família cede de bom grado. A Eucaristia é, pois, um banquete, onde a nova família de Jesus se alimenta, para viver da própria vida de Jesus. Mas é, ao mesmo tempo, um banquete sagrado, onde o próprio Jesus Se oferece sacrificando-se, como cordeiro imolado, por nós! Eis porque à volta desta mesa, temos de estar «à vontade», como que em nossa casa, mas sem alguns «à vontades», que banalizam o drama desta cena e desta ceia, cujo mistério nos transcende! 

3. Gostaria, hoje, de destacar a insistência de Jesus nos «preparativos para celebrar», o que implica não apenas vir com tempo e a tempo, para preparar bem o coração, para este encontro de amor; mas exige também um cuidado extremo pela beleza e harmonia de toda a celebração da Eucaristia! A todos é pedido o esforço por criar um ambiente familiar, acolhedor dos outros e recolhedor do mistério de Deus! Isto pressupõe uma preparação interior e pessoal, pois trata-se de celebrar uma presença de amizade, que só a luz da fé pode vislumbrar e admirar! Por isso, na Eucaristia, têm particular importância os ritos que nos preparam de imediato para a comunhão: a começar pela oração do pai-nosso, que aviva o nosso espírito de família e nos faz suplicar pelo pão e pelo perdão; também o gesto da paz, se destina a contagiar o amor de Deus e não pode reduzir-se a um cumprimento banal e ainda por cima fora de horas. A invocação «Senhor, eu não sou digno» é o último gesto da fé humilde, com que respondemos ao convite e nos preparamos para estender a mão ao dom do pão eucarístico. São João Maria Vianney gostava de dizer aos seus paroquianos: "Vinde à comunhão... É verdade que não sois dignos dela, mas dela tendes necessidade". 

4. Conscientes de sermos indignos, por causa dos pecados, mas com a necessidade de nos alimentarmos no sacramento eucarístico, renovemos, neste dia do Corpo de Deus, a nossa fé, na real presença de Cristo, vivo e ressuscitado, na Santíssima Eucaristia! Aliás, “não se deve dar por certa esta fé! 

Hoje corre-se o risco de uma secularização rastejante, também no interior da Igreja, que se pode traduzir num culto eucarístico formal e vazio, em celebrações sem aquela participação do coração, que se expressa em veneração e respeito pela liturgia. 

É sempre forte a tentação de reduzir a oração a momentos superficiais e apressados, deixando-se subjugar pelas atividades e preocupações terrenas” (Bento XVI, Homilia no Corpus Christi 2009). Sintomas disto mesmo são, por exemplo, a falta de pontualidade na celebração; a facilidade com que se deixa tocar e se atende o telemóvel em plena Missa; a ligeireza com que certas pessoas se abeiram da comunhão, quase por arrasto ou imitação; a falta de decoro no modo como se recebe a sagrada hóstia na mão. Ora “a ninguém é permitido aviltar este mistério que está confiado às nossas mãos: é demasiado grande para que alguém possa permitir-se tratá-lo a seu livre arbítrio, não respeitando o seu caráter sagrado” (João Paulo II, Ecc. Euch. 52). 

5. Neste final de ano pastoral, guardemos fielmente o segredo da aliança: Jesus fica connosco, através da Eucaristia, e nós aceitamos o convite e o desafio a estar com Ele! A sala do encontro é a Igreja Paroquial. A mesa do banquete é o altar da Eucaristia! Ser fiel à aliança de Jesus connosco, e à nossa aliança com Jesus, passa também por não faltar a este encontro. Que nós saibamos corresponder a este amor de Jesus, por nós, respondendo, como numa só voz: “Faremos tudo o que o Senhor nos ordenou”!

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