15 de Agosto de 2013 - Assunção de Maria Santíssima

A bula da definição dogmática não fala de argumentos bíblicos, pois a
Escritura não afirma a Assunção de Maria. Discute-se se Maria morreu ou
não. Por isso, o texto dogmático, cautelosamente, diz “terminado o
curso de sua vida terrestre”. Nós, por isso, afirmamos que Maria morreu,
pois só assim se pode falar, verdadeiramente, de ressurreição,
porquanto somente um morto pode ressuscitar. Maria morreu pelo fato
natural da morte que pertence à estrutura da vida humana,
independentemente do pecado. Maria, livre e isenta de todo o pecado,
pôde integrar a morte como pertencente à vida criada por Deus. A morte
não é vista como fatalidade e perda da vida, mas como chance e passagem
para uma vida mais plena em Deus.
Além disso, Maria participa na economia da redenção pelo fato de ser a
Mãe do Senhor (Lc 1,43). Ela se associou totalmente ao destino de seu
Filho. A redenção implica sempre a colaboração de quem a recebe. Maria
colaborou admiravelmente na própria salvação. Já por este título ela é o
modelo original de quantos recebem a salvação, o modelo de todos os
redimidos. Como tal, ela já tem um significado universal de salvação. É o
protótipo da vida redimida, a plena e perfeita realização, a imagem
ideal de toda a vida cristã. Por sua vida e morte Jesus nos libertou.
Por sua vida e morte Maria participou desta obra messiânica e universal.
A co-redenção significa a associação de Maria tanto à cruz de Jesus
como à sua ressurreição e exaltação gloriosa ou ascensão. Esta razão
teológica tem o seu fundamento no triunfo de Cristo sobre a morte, de
que faz participantes todos os cristãos por meio da fé e do batismo.
Maria foi assunta ao céu em corpo e alma. Aqui não se trata de
dogmatizar um esquema antropológico (corpo e alma). Utiliza-se esta
expressão, compreensível à cultura ocidental, para enfatizar o caráter
totalizante e completo da glorificação de Maria. Maria vê-se envolvida
na absoluta realização. “Assunta ao céu”, ela se nos apresenta como as
primícias da redenção, tendo já consumado em si o que ainda se realizará
em nós e na Igreja. O corpo de Maria, enquanto ela perambulava por este
mundo, foi somente veículo de graça, de amor, de compreensão e de
bondade. Não foi instrumento de pecado, da vontade de auto-afirmação
humana e de desunião com os irmãos. O corpo é forte e frágil, cheio de
vida e contaminado pela doença e morte. Por isso, é exaltado por uns até
a idolatria e odiado por outros até a trituração. Maria vive e goza, no
corpo e na alma, quer dizer na totalidade de sua existência, desta
inefável realização humana e divina.
Para Maria a assunção significa o definitivo encontro com seu Filho
que a precedeu na glória. Mãe e Filho vivem um amor e uma união
inimaginável. Maria agora vive, em corpo e alma, aquilo que nós também
iremos viver quando atingirmos o céu. Enquanto peregrinamos, Maria atua
como imagem que recorda e concretiza o nosso futuro. Em cada um que
morre no Senhor se realiza aquilo que ocorreu com Maria: a ressurreição e
a elevação ao céu. Andando por entre as tribulações do tempo presente,
erguemos os olhos ao e rezamos: Salve Maria, vida, doçura e esperança,
salve! Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Doce mãe
da esperança, em quem apareceu o futuro do mundo e nos foi antecipada e
prometida a glória do tempo futuro, ajuda-nos a ser peregrinos na
esperança a caminho da unidade futura do Reino, sem pararmos diante das
resistências e das canseiras, antes nos empenhando, com fidelidade e
paixão, em levar no presente os homens ao futuro da promessa de Deus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de
nossa morte. Amém!
Algumas mensagens da leitura evangélica desta festa
“Agiu com a força de
seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso, depôs poderosos de
seus tronos, e a humildes exaltou”(vv.51-52), revelam a situação vital
de quem conheceu a vitória da ressurreição- exaltação sobre a morte-
humilhação do Filho de Maria, Jesus Cristo. Porém, não se pode pôr em
dúvida que Lucas tenha usado fonte pre-evangélica (1Sm 2,1-11;Sl
88,9.11;110,2.3.5).
A fé que desperta
As palavras de saudação e agradecimento dirigidas por Isabel a Maria
despertaram nela uma maravilhosa profissão de fé. Coisa semelhante
acontece com cada um de nós. Lemos ou escutamos a Palavra de Deus ou
lemos um bom livro espiritualmente. E quantas vezes tudo isso nos toca o
coração e faz brotar dos lábios uma oração de louvor. Maria reconhece
que o amor misericordioso do Senhor a tocou; e tocando-a, tocou a
humanidade inteira. Por isso é que Isabel a proclama “bem-aventurada”.
Por Maria e nela, todos os homens reconhecem o amor infinito e
misterioso de Deus (Jo 3,16). Todos nós temos necessidade de que um
outro nos revele a nós mesmos. É grande graça na vida de uma pessoa
encontrar um mestre de espírito que lhe indique o seu nome, a sua
vocação, a sua missão.
Neste Magnificat Deus é proclamado como “Santo”. Santo significa
aquele que está para além de tudo quanto pudermos pensar e imaginar; é
totalmente outro que habita numa luz inacessível (v.49). Mas não vive
numa soberana distância dos gritos dolorosos de seus filhos, pois este
Deus santo é também misericordioso. Possui um coração sensível aos
míseros (miseri-cor-dioso) e protesta contra a injustiça e a exploração e
opressão. O texto chama-nos a atenção que os orgulhosos, os detetores
do poder e os ricos fechados para si não possuem a última palavra como
sempre pretendem, pois cada um tem que prestar contas diante de Deus.
Escapa da justiça humana, sobra a justiça divina. Aí é que ninguém
escapa. Pela sua fé no poder ilimitado de Deus (v.37), Maria reconhece
que a situação provocada pela prepotência, opressão e exploração não é
desejada por Deus e, por isso, espera que não seja definitiva. Esta
intervenção de Deus é vista como um ato de fidelidade para com o povo da
aliança.
Maria, ao contrário, abre o Novo Testamento e representa não só o
Povo da Nova Aliança, mas toda a humanidade redimida. Ao aceitar o seu
“faça-se/Fiat” a mensagem do Senhor, Maria se converteu na Mãe de Jesus,
Nosso Senhor (LG 56). Por esta fé Maria é a primeira crente e discípula
de Cristo, a primeira cristã da Igreja (Marialis Cultus de Paulo VI,
nn.35-36). Jesus vai declarar mais tarde a bem-aventurança da fé,
relativizando até certo ponto os vínculos de sangue com Maria, Sua Mãe,
ao dizer: ” Felizes os que escutam a Palavra de Deus e a põe em prática”
(Lc 11,28),porque esses são meu irmão e minha irmã e minha mãe” (Mc
3,35). Maria é feliz porque acreditou e cumpriu a Palavra e a vontade de
Deus que aceita sem reservas com um sim incondicional. Nossa Igreja,
por isso, reverencia a Mãe de Jesus como modelo de fé e de fidelidade a
Deus.
Jesus declara feliz quem escuta e coloca em prática a palavra de Deus. Até neste ponto, será que somos felizes?
Autor
P. Vitus Gustama,svd
Fonte
http://carmelostrindade.wordpress.com
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