15 de Agosto de 2013 - Assunção de Maria Santíssima




proclamação do dogma da Assunção de Maria à glória dos céus, em alma e corpo, pertence ao século XX: foi declarado solenemente por Pio XII em 01 de Novembro de 1950 na bula Munificentissimus Deus. No entanto, a liturgia da Igreja universal, tanto no Oriente quanto no Ocidente, celebrou por muitos séculos esta convicção de fé. No século V celebrava-se em Jerusalém no dia 15 de agosto uma festa importante que tinha por objeto a excelência da pessoa da Mãe de Deus, eleita por supremo conselho para desempenhar uma missão muito especial na história da salvação. Entre o V e VI século, a narração apócrifa sobre o Trânsito de Maria da vida terrena à glória eterna alcançou uma difusão extraordinária: a conseqüência foi o desejo natural dos peregrinos que ocorriam a Jerusalém de honrar o túmulo da Virgem. Durante o século VII, com o nome de Assunção foi acolhida na Igreja de Roma, juntamente com as festa da Apresentação, Anunciação e Natividade, para as quais o Papa Sérgio I (+ 701), instituiu uma procissão preparatória para a missa, celebrada na Santa Maria Maior. No fim do século VII encontra-se uma antiga oração romana composta para a procissão que introduz a celebração mariana do dia 15 de agosto: “Venerável é para nós, Senhor, a festa deste dia em que a Santa Mãe de Deus sofreu a morte terrena, mas não permaneceu nas amarras da morte, ela que, do próprio ser, gerou, encarnado, o teu Filho, Senhor nosso” (Sacramentário Gregoriano Adrineu, no.661)

 
A bula da definição dogmática não fala de argumentos bíblicos, pois a Escritura não afirma a Assunção de Maria. Discute-se se Maria morreu ou não. Por isso, o texto dogmático, cautelosamente, diz “terminado o curso de sua vida terrestre”. Nós, por isso, afirmamos que Maria morreu, pois só assim se pode falar, verdadeiramente, de ressurreição, porquanto somente um morto pode ressuscitar. Maria morreu pelo fato natural da morte que pertence à estrutura da vida humana, independentemente do pecado. Maria, livre e isenta de todo o pecado, pôde integrar a morte como pertencente à vida criada por Deus. A morte não é vista como fatalidade e perda da vida, mas como chance e passagem para uma vida mais plena em Deus.


Além disso, Maria participa na economia da redenção pelo fato de ser a Mãe do Senhor (Lc 1,43). Ela se associou totalmente ao destino de seu Filho. A redenção implica sempre a colaboração de quem a recebe. Maria colaborou admiravelmente na própria salvação. Já por este título ela é o modelo original de quantos recebem a salvação, o modelo de todos os redimidos. Como tal, ela já tem um significado universal de salvação. É o protótipo da vida redimida, a plena e perfeita realização, a imagem ideal de toda a vida cristã. Por sua vida e morte Jesus nos libertou. Por sua vida e morte Maria participou desta obra messiânica e universal. A co-redenção significa a associação de Maria tanto à cruz de Jesus como à sua ressurreição e exaltação gloriosa ou ascensão. Esta razão teológica tem o seu fundamento no triunfo de Cristo sobre a morte, de que faz participantes todos os cristãos por meio da fé e do batismo.


Maria foi assunta ao céu em corpo e alma. Aqui não se trata de dogmatizar um esquema antropológico (corpo e alma). Utiliza-se esta expressão, compreensível à cultura ocidental, para enfatizar o caráter totalizante e completo da glorificação de Maria. Maria vê-se envolvida na absoluta realização. “Assunta ao céu”, ela se nos apresenta como as primícias da redenção, tendo já consumado em si o que ainda se realizará em nós e na Igreja. O corpo de Maria, enquanto ela perambulava por este mundo, foi somente veículo de graça, de amor, de compreensão e de bondade. Não foi instrumento de pecado, da vontade de auto-afirmação humana e de desunião com os irmãos. O corpo é forte e frágil, cheio de vida e contaminado pela doença e morte. Por isso, é exaltado por uns até a idolatria e odiado por outros até a trituração. Maria vive e goza, no corpo e na alma, quer dizer na totalidade de sua existência, desta inefável realização humana e divina.


Para Maria a assunção significa o definitivo encontro com seu Filho que a precedeu na glória. Mãe e Filho vivem um amor e uma união inimaginável. Maria agora vive, em corpo e alma, aquilo que nós também iremos viver quando atingirmos o céu. Enquanto peregrinamos, Maria atua como imagem que recorda e concretiza o nosso futuro. Em cada um que morre no Senhor se realiza aquilo que ocorreu com Maria: a ressurreição e a elevação ao céu. Andando por entre as tribulações do tempo presente, erguemos os olhos ao e rezamos: Salve Maria, vida, doçura e esperança, salve! Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Doce mãe da esperança, em quem apareceu o futuro do mundo e nos foi antecipada e prometida a glória do tempo futuro, ajuda-nos a ser peregrinos na esperança a caminho da unidade futura do Reino, sem pararmos diante das resistências e das canseiras, antes nos empenhando, com fidelidade e paixão, em levar no presente os homens ao futuro da promessa de Deus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!


Algumas mensagens da leitura evangélica desta festa

 “Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso, depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou”(vv.51-52), revelam a situação vital de quem conheceu a vitória da ressurreição- exaltação sobre a morte- humilhação do Filho de Maria, Jesus Cristo. Porém, não se pode pôr em dúvida que Lucas tenha usado fonte pre-evangélica (1Sm 2,1-11;Sl 88,9.11;110,2.3.5).

A fé que desperta


As palavras de saudação e agradecimento dirigidas por Isabel a Maria despertaram nela uma maravilhosa profissão de fé. Coisa semelhante acontece com cada um de nós. Lemos ou escutamos a Palavra de Deus ou lemos um bom livro espiritualmente. E quantas vezes tudo isso nos toca o coração e faz brotar dos lábios uma oração de louvor. Maria reconhece que o amor misericordioso do Senhor a tocou; e tocando-a, tocou a humanidade inteira. Por isso é que Isabel a proclama “bem-aventurada”. Por Maria e nela, todos os homens reconhecem o amor infinito e misterioso de Deus (Jo 3,16). Todos nós temos necessidade de que um outro nos revele a nós mesmos. É grande graça na vida de uma pessoa encontrar um mestre de espírito que lhe indique o seu nome, a sua vocação, a sua missão.

 
Neste Magnificat Deus é proclamado como “Santo”. Santo significa aquele que está para além de tudo quanto pudermos pensar e imaginar; é totalmente outro que habita numa luz inacessível (v.49). Mas não vive numa soberana distância dos gritos dolorosos de seus filhos, pois este Deus santo é também misericordioso. Possui um coração sensível aos míseros (miseri-cor-dioso) e protesta contra a injustiça e a exploração e opressão. O texto chama-nos a atenção que os orgulhosos, os detetores do poder e os ricos fechados para si não possuem a última palavra como sempre pretendem, pois cada um tem que prestar contas diante de Deus. Escapa da justiça humana, sobra a justiça divina. Aí é que ninguém escapa. Pela sua fé no poder ilimitado de Deus (v.37), Maria reconhece que a situação provocada pela prepotência, opressão e exploração não é desejada por Deus e, por isso, espera que não seja definitiva. Esta intervenção de Deus é vista como um ato de fidelidade para com o povo da aliança.


Maria, ao contrário, abre o Novo Testamento e representa não só o Povo da Nova Aliança, mas toda a humanidade redimida. Ao aceitar o seu “faça-se/Fiat” a mensagem do Senhor, Maria se converteu na Mãe de Jesus, Nosso Senhor (LG 56). Por esta fé Maria é a primeira crente e discípula de Cristo, a primeira cristã da Igreja (Marialis Cultus de Paulo VI, nn.35-36). Jesus vai declarar mais tarde a bem-aventurança da fé, relativizando até certo ponto os vínculos de sangue com Maria, Sua Mãe, ao dizer: ” Felizes os que escutam a Palavra de Deus e a põe em prática” (Lc 11,28),porque esses são meu irmão e minha irmã e minha mãe” (Mc 3,35). Maria é feliz porque acreditou e cumpriu a Palavra e a vontade de Deus que aceita sem reservas com um sim incondicional. Nossa Igreja, por isso, reverencia a Mãe de Jesus como modelo de fé e de fidelidade a Deus.
Jesus declara feliz quem escuta e coloca em prática a palavra de Deus. Até neste ponto, será que somos felizes?


Autor 
P. Vitus Gustama,svd


Fonte
http://carmelostrindade.wordpress.com

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