23 Abr 2011 - Sábado Santo Vigília Pascal

Sermão de Santo Agostinho na Vigília Pascal
O bem-aventurado apóstolo Paulo, exortando-nos a que o imitemos, dá entre outros sinais de sua virtude o seguinte: "freqüente nas vigílias" [2Cor 11,27]. Com quanto maior júbilo não devemos também nós vigiar nesta vigília, que é como a mãe de todas as santas vigílias, e na qual o mundo todo vigia? Não o mundo, do qual está escrito: "Se alguém amar o mundo, nele não está a caridade do Pai, pois tudo o que há no mundo é concupiscência dos olhos e ostentação do século, e isto não procede do pai" [1Jo 2,15].
 
 
Sobre tal mundo, isto é, sobre os filhos da iniqüidade, reinam o demônio e seus anjos. E o Apóstolo diz que é contra estes que se dirige a nossa luta: "Não contra a carne e o sangue temos de lutar, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores do mundo destas trevas" [Ef 6,12]. Ora, maus assim fomos nós também, uma vez; agora, porém, somos luz no Senhor. Na Luz da Vigília resistamos, pois, aos dominadores das trevas. Não é, portanto, esse o mundo que vigia na solenidade de hoje, iras aquele do qual está escrito: "Deus estava reconciliando consigo o mundo, em Cristo, não lhe imputando os seus pecados" [2Cor 5,19].
 
 
E é tão gloriosa a celebridade desta vigília, que compele a vigiarem na carne mesmo os que, no coração, não digo dormirem, mas até jazerem sepultos na impiedade do tártaro. Vigiam também eles esta noite, na qual visivelmente se cumpre o que tanto tempo antes fora prometido: "E a noite se iluminará como o dia" [Sl 138,12]. Realiza-se isto nos corações piedosos, dos quais se disse: "Fostes outrora trevas, mas agora sois luz no Senhor". Realiza-se isto também nos que zelam por todos, seja vendo-os no Senhor, seja invejando ao Senhor. Vigiam, pois, esta noite, o mundo inimigo e o mundo reconciliado.
 
 
Este, liberto, para louvar o seu Médico; aquele, condenado, para blasfemar o seu juiz. Vigia um, nas mentes piedosas, ferventes e luminosas; vigia o outro, rangendo os dentes e consumindo-se. Enfim, ao primeiro é a caridade que lhe não permite dormir, ao segundo, a iniqüidade; ao primeiro, o vigor cristão, ao segundo o diabólico. Portanto, pelos nossos próprios inimigos sem o saberem eles, somos advertidos de como devamos estar hoje vigiando por nós, se por causa de nós não dormem também os que nos invejam. Dentre ainda os que não estão assinalados com o nome de cristãos, muitos são os que não dormem esta noite por causa da dor, ou por vergonha.
 
 
Dentre os que se aproximam da fé, há os que não dormem por temor. Por motivos vários, pois, convida hoje à vigília a solenidade (da Páscoa), Por isso, como não deve vigiar com alegria aquele que é amigo de Cristo, se até o inimigo o faz, embora contrariado? Como não deve arder o cristão por vigiar, nessa glorificação tão grande de Cristo, se até o pagão se en- vergonha de dormir? Como não deve vigiar em sua solenidade, o que já ingressou nesta grande Casa, se até o que apenas pretende nela ingressar já vigia?
 
 
Vigiemos, e oremos; para que tanto exteriormente quanto interiormente celebremos esta Vigília. Deus nos falará durante as leituras; falemo-lhe também nós em nossas preces. Se ouvimos obedientemente as suas palavras, em nós habita Aquele a quem oramos.
 
Canto do Exultet

Exulte de alegria a multidão dos anjos, Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities

Exultem de Deus os ministros;
Soe a triunfal trombeta,
Esta vitória de um tão grande Rei!

Alegra-te também, ó terra nossa
Que em tantas luzes agora resplandeces,
Vê como foge do universo a treva,
Enquanto fulge a luz do eterno Rei!

Alegra-te também, ó Mãe Igreja,
Ornada inteira de esplendor divino,
Escuta como vibra neste templo
A aclamação do povo!

Prefácio:  

Na verdade é nosso dever e salvação
cantar de coração e a plena voz
Ó Pai todo-poderoso, Deus invisível,
E seu único Filho, Jesus Cristo Senhor nosso.
Foi Ele quem pagou por nós ao Pai eterno,
O preço da dívida de Adão,
E foi quem apagou só por amor, no sangue derramado,
A condenação da antiga culpa.
Eis, pois a festa da Páscoa,
Na qual foi posto à morte o verdadeiro Cordeiro,
Cujo sangue consagrou
As portas dos fiéis.
Eis a noite, em que tirastes do Egito
Os nossos pais, os filhos de Israel,
A quem fizestes transpor
O Mar Vermelho a pé enxuto.
Eis a noite em que a coluna luminosa
Dissipou as trevas do pecado.
Eis a noite que arranca ao mundo corrompido, cego pelo mal,
Os que hoje, em toda a terra, puseram a sua fé no Cristo.
Noite em que os devolve à graça
E os introduz na comunhão dos santos.
Eis a noite em que o Cristo, quebrando os vínculos da morte,
Sai vitorioso do sepulcro.
Oh! imensa comiseração da vossa graça,
Imprevisível amor para conosco:
A fim de resgatar o escravo,
Entregais vosso Filho.
Ó pecado de Adão sem dúvida necesário,
Pois a morte do Cristo o destrói!
Bendita culpa,
Que nos vale um semelhante Redentor!
Pois o poder santificante desta noite
Expulsa o crime e lava as culpas,
Devolve a inocência aos pecadores,
A alegria aos aflitos,
Dissipa o ódio, prepara a concórdia,
Desarma os impérios.
Noite em que o céu se une à terra,
E o homem com Deus se encontra.
Na graça desta noite, acolhei, Pai Santo,
Como sacrifício de louvor vespertino,
A chama que sobe desta coluna de cera
Que a igreja, por nossas mãos Vos oferece.
Por isto, Senhor, Vos pedimos:
Fazei que este círio pascal
Consagrado ao Vosso nome,
Brilhe sem declínio e afugente as trevas desta noite.
Que o astro da manhã
O encontre ainda aceso,
Aquele que não conhece ocaso:
O Cristo ressuscitado dos mortos,
Que espalha sobre os homens sua luz e sua paz.
Ele que convosco vive e reina
Na unidade do Espírito Santo.
Por todos os séculos dos séculos
Amén.


Sermão de Santo Agostinho - Vigília Pascal

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