Tempo da Epifania


Tempo da Epifania
"Levanta-te e acende as luzes, porque chegou a tua luz" (Isaías 60,1)





A profecia - canto poético e glorioso - é uma visão de universalismo e unidade de todos os povos no caminho para Jerusalém (cf. Jeremias 12,15-16; 16,19-21; Miqueias 4,1-3; Sofonias 3,9-10; Zacarias 8,20-23).

O Profeta enxerga uma caravana que avança em direção à Cidade Santa em dois grupos bem distintos: um composto pelos filhos e filhas de Israel que retornam do Exílio (versículo 4) e outro formado pelas nações estrangeiras atraídas pela luz e glória de Deus que iluminam a colina de Sião. Isaías, então, se dirige ao povo que o escuta, dizendo: "Levanta-te, acende as luzes... Levanta os olhos ao redor e vê" (versículos 1 e 4). Terminou o tempo de cansaço e lamentação e começou o tempo da alegria e esperança. É necessário que a humanidade abandone o seu individualismo e pessimismo, e ingresse na certeza de uma nova vida, alcançando-a ao deixar as trevas e caminhando na direção da cidade iluminada, cujo esplendor provém de Deus: "Sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. Os povos caminham à tua luz" (versículos 2 e 3; cfr. Apocalipse 21,9-27).

O plano de Deus diz respeito a todos os povos, chamados a ser envolvidos pela luz da Jerusalém Celeste e pela transparência da presença de Deus que habita entre o Seu povo. O próprio Deus será o farol que orienta e atrai os povos, dos súditos aos reis. E em Jerusalém se dará a grande manifestação, sendo revelado aquilo que estava oculto. Os evangelistas verão no nascimento de Jesus a revelação de Deus e o cumprimento desta profecia.


Paulo reconhece que a missão que lhe foi confiada foi a de levar o Evangelho aos gentios e explica que o desígnio salvífico de Deus - relativo à humanidade inteira chamada a caminhar à luz do único Deus e Pai - já chegou à sua plenitude. E este segredo do mistério de Deus é a chamada à universalidade e à unidade dos povos: "os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo" (versículo 6). O Apóstolo também se sente impulsionado, como colaborador desta missão de Jesus, a trabalhar pela difusão do Evangelho.



O verdadeiro sinal e instrumento desta visão universal da salvação desejada por Deus é a Igreja. Esta tem como tarefa a unidade dos povos, quer levando a todos à fé em Jesus através do anúncio do Evangelho, quer criando vínculos de comunhão e fraternidade, apesar das aparências e das múltiplas diversidades. Todavia, diante de um mundo dividido mas desejoso de comunhão, proclama com alegria e fé que Deus é comunhão - Pai, Filho e Espírito Santo - unidade na distinção, chamando a todos a participar da comunhão trinitária.



Com efeito, mediante a comunhão com Jesus, cabeça da Igreja, é possível a comunhão autêntica entre os homens. Esta unidade e paz universal, que os homens de todos os tempos sempre procuraram, está agora ao alcance de todos pelo nascimento do Filho de Deus. Foi Ele quem tornou realidade o mistério de Deus, isto é, a reunião de todos os povos. Para isto fomos chamados: viver em paz como verdadeiros irmãos e permanecer unidos como filhos do mesmo Pai.


Tendo nascido Jesus na cidade de Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: "Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo". Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém. Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: "Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 'E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o Pastor de Israel, o meu povo'".




A epifania é a manifestação pública da salvação trazida por Jesus, Rei Universal. Mateus ilumina o relato bíblico com alguns elementos históricos e referências do Antigo Testamento (cf. Isaías 60,1-6; Números 23-24; 1Reis 10,1-13; Miqueias 5,1), e nos fala de uma revelação extraordinária que faz os Magos ou Sábios descobrirem o Rei dos judeus como Rei do Universo.


No tocante aos Magos, foi apenas no século V que se fixou o seu número (com base nos presentes oferecidos) e só no século VIII que se lhe foram atribuídos os nomes de Gaspar, Baltazar e Belquior. Porém, para Mateus, os Magos são personagens ilustres, primícias dos pagãos, que exaltam a dignidade de Jesus, protagonista do Evangelho: eles o procuram ("Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?", cf. versículo 2), reconhecem o Messias ("Ajoelharam-se diante dele e o adoraram", cf. versículo 11a) e apreciam Sua simplicidade e pobreza ("Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro [ao rei], incenso [a Deus] e mirra [ao homem]", cf. versículo 11b).


Ao contrário, Herodes e Jerusalém ficam perturbados diante da notícia do nascimento do Messias (versículo 3) e o procuram para matá-lo. O menino nascido em Belém é o portador da Boa Nova, mas assume, no entanto, o rosto de um fugitivo porque se vê obrigado a fugir para o Egito. O Messias é procurado e rejeitado pois a sua bandeira será a Cruz. Jesus é sinal de contradição: marginalizado pelo seu povo e procurado com esperança pelos que vêm de longe; então Belém será a nova Sião, a cidade universal das nações (versículos 5, 6 e 8), e Jerusalém descartada. O novo Povo de Deus, herdeiro das antigas promessas, é a continuidade do antigo povo, mas será formado por todos aqueles que procuram e reconhecem "a estrela da manhã" (cf. 2Pedro 1,19) com disposição interior.


HOMILIA PATRÍSTICA: "RECEBAMOS TAMBÉM NÓS ESSA IMENSA ALEGRIA EM NOSSOS CORAÇÕES"

A estrela parou sobre o lugar onde se encontrava o Menino. Por isso, os Magos, ao verem a estrela, se encheram de imensa alegria. Recebamos também nós essa imensa alegria em nossos corações! É a alegria que os anjos anunciam aos pastores. Adoremos com os Magos; demos glória com os pastores; dancemos como os anjos, porque "hoje nasceu-nos um Salvador, o Messias, o Senhor"! O Senhor é Deus: Ele nos ilumina, não na condição divina, para atemorizar a nossa fraqueza, mas na condição de escravo, para gratificar com a liberdade aqueles que gemiam sob a escravidão! Quem é tão insensível, quem é tão ingrato, quem não se alegra, quem não exulta, quem não fica feliz com tais notícias? Esta é uma festa comum a toda Criação: são outorgados ao mundo dons celestiais; o arcanjo é enviado a Zacarias e a Maria; um coro de anjos se forma para cantar: "Glória a Deus no céu e na terra paz aos homens que são amados por Deus"!


As estrelas se despregam do céu; algum Magos abandonam o paganismo; a terra O recebe em uma gruta. Que todos tragam algo; que nenhum homem seja mal-agradecido. Festejemos a salvação do mundo! Celebremos o dia natalício da natureza humana! Hoje foi cancelada a dívida de Adão! A partir de agora não mais se dirá: "És pó e ao pó voltarás", mas: "Unido Àquele que vem do céu, serás admitido no céu". Já não mais se dirá: "Terás filhos em meio a dor", pois é bem-aventurada aquela que deu a luz ao Emanuel e os peitos que O alimentaram. Precisamente por isto "um filho nos nasceu, um filho nos foi dado: Ele carrega nos ombros o principado".


Une-te também aos que, a partir do céu, receberam com felicidade o Senhor. Pensa nos pastores demonstrando sabedoria, nos pontífices que receberam o dom da profecia, nas mulheres transbordando de alegria: Maria que é convidada por Gabriel a se alegrar; Isabel que sente João [Batista] saltar de alegria em seu ventre! Ana, que falava da Boa Nova, e Simeão, que O tomou em seus braços, ambos adoraram o grande Deus no Menino; e, longe de desprezar o que viam, ressaltam a majestade de sua divindade, pois a força divina se fazia visível através do corpo humano, tal como a luz que atravessa o cristal, brilhando diante daqueles que tinham purificado os olhos do coração. Oxalá nos encontremos também com eles, para contemplar a face descoberta da glória do Senhor como em um espelho, para que também nós possamos nos transformar em Sua imagem com crescente resplendor, pela graça e benignidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem seja dada a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.


(São Basílio Magno; Homilia sobre a Geração de Cristo [PG 31,1471-1475])


MEDITAÇÃO


"Epifania" quer dizer "manifestação" e a Palavra de Deus nesta solenidade centraliza-se totalmente sobre Jesus Messias, Rei e Salvador Universal das nações. Ele não veio apenas para Israel, mas também para os pagãos, isto é, para toda a família humana. A vinda dos Magos é o início da unidade das nações, que se realizará plenamente na fé em Jesus, quando todos os homens se sentirem filhos do mesmo Pai e irmãos entre si. Os Magos, como "primeiros ouvintes" e testemunhas de Cristo, são o tipo e prelúdio de uma multidão maior de "verdadeiros adoradores", que constituirá a messe espiritual dos tempos messiânicos: Jesus é o semeador que traz a boa semente da Palavra para todos; o Espírito faz amadurecer a semente e a Igreja é convidada a recolher em abundância o fruto semeado pela revelação de Jesus e fecundado pela sua morte.

Como da vida de comunhão e do amor entre o Pai e o Filho derivou a missão de Jesus, assim também da intimidade entre Jesus e a Igreja surge a missão dos discípulos: criar a unidade entre as raças, povos e línguas. É a Palavra que cria a unidade no amor entre os fiéis de todos os tempos. É através dela que nasce a fé e se estabelece no coração do homem aberto à verdade uma existência vital em Deus, que faz o homem contemporâneo pertencer a Cristo. Àqueles que O buscam com um coração sincero, Jesus lhes oferece unidade na fé e no amor. Neste ambiente vital todos se tornam "um" à medida que acolhem Jesus e crêem na sua Palavra: "Seremos uma só coisa não por poder crer, mas por termos crido" (Santo Agostinho).

Em Jesus todos podem ser uma só coisa e descobrir que a plenitude da vida consiste em entregar-se a Cristo e aos irmãos: isto é amar na unidade."


Autores: vários.

fonte : Veritatis Splendor: http://www.veritatis.com.br/article/6119.

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