Festa da Sagrada Família

Festa da Sagrada Família


Não nos parece deste tempo a família de Nazaré, de Jesus, de Maria e José. Temos, afinal, uma Virgem que é Mãe. Um Pai, chamado a sê-lo, por adopção. Um Filho Único, com tantos irmãos. Diríamos que em Nazaré, os laços de sangue, correm pelas veias da fé. Maria e José, tão distintos, encontram-se plenamente no olhar cruzado das suas vidas, sobre o mistério do seu filho Jesus. Os seus corações entrelaçam-se, fortemente, nesse único fio da vontade de Deus, a que se entregam inteiramente, de corpo e alma, seja na luz da noite, seja na obscuridade de cada dia. Na família de Nazaré, o sangue parece o elo mais fraco. E a fé torna-se o elo mais forte, pelo qual se unem e se encontram cada uma das pessoas, todas elas centradas no único desejo comum de cumprir fielmente a vontade de Deus e de realizar o seu projecto.


Esta dimensão da fé precisa hoje de ser muito cuidada pelas nossas famílias. Num tempo, em que os próprios laços de sangue, parecem já não fundar a autoridade dos pais, nem resistir ao assédio do amor-próprio, é preciso unir a família, fundando-a em alicerces bem mais firmes. Cristo, nas suas próprias palavras, se apresentou, um dia, como a «rocha» (Mt.7,24) e fundamento desta construção familiar, que precisa de assentar em valores eternos, para encontrar o seu verdadeiro suplemento de alma.


Nesse sentido, queria hoje lembrar às famílias o seu primeiro, irrenunciável e insubstituível papel na experiência e na educação da Fé. Foi aliás esse o compromisso assumido no dia do matrimónio: «Estais dispostos a receber os filhos, como dom de Deus e a educá-los, segundo a lei de Cristo e da Santa Igreja», pergunta-se aos noivos. E no dia do Baptismo dos filhos, são interrogados os pais: «Pedistes o batismo para o vosso filho. Deveis educá-lo na fé, para que, observando os mandamentos, ame a Deus e ao próximo, como Cristo nos ensinou. Estais conscientes deste compromisso»?


O «sim» dado, em uma e outra circunstância, destina-se a transformar a família, numa Igreja doméstica, verdadeira e primeira escola de vida evangélica, onde os filhos possam crescer, como o Menino, “em sabedoria, em santidade e em graça” (Lc.2,52).



Nesta Educação da Fé, tem lugar privilegiado a oração familiar a oração feita em comum, marido e esposa, pais e filhos, juntos. É uma oração que deve partir sobretudo da própria vida de família, em todas as suas diversas fases: alegrias e dores, esperanças e tristezas, nascimento e festas de anos, aniversários de casamento dos pais, partidas, ausências e regressos, escolhas importantes e decisivas, a morte de pessoas queridas, etc. Rezando, muito particularmente nesses momentos, todos perceberão melhor quanto eles assinalam a intervenção do amor de Deus, na história de cada família, assim como devem marcar o momento favorável para o silêncio, para a acção de graças, para a súplica, para o abandono confiante da família ao Pai que está nos céus.

É maravilhoso descobrir a proximidade de Deus numa família que aprende a rezar. Jesus nunca mais se esquece de nós, conhece e partilha todas as nossas dificuldades, acompanhar-nos-á nos nossos esforços para aprendermos a dialogar com o Pai. A Oração de um pai e de uma mãe, em união com os filhos, é portanto uma ocasião excepcional para fazer a experiência da extraordinária proximidade de Deus.


Só rezando em conjunto com os filhos, o pai e a mãe, educam para a oração; só assim, entram na profundidade do coração dos filhos, deixando marcas que os acontecimentos futuros da vida não conseguirão fazer desaparecer. Dedicar um espaço diário à oração em família é compreender que o encontro com Deus é o acontecimento mais importante e significativo de cada um dos nossos dias.

Deixai então que vos pergunte: «Pais, ensinais e rezais com os vossos filhos, as orações do cristão, a começar pelas fórmulas mais simples, do Pai Nosso, da Avé Maria, do Glória, do Anjo da Guarda? Além das brevíssimas orações da manhã e da tarde, e para já não falar da leitura e meditação da Palavra de Deus, porque não tentar a simples bênção da mesa, sobretudo ao domingo e em dias festivos? No respeito pela liberdade dos filhos de Deus, é de sugerir aqui também a recitação do Terço do Rosário, “como ajuda eficaz para conter os efeitos devastantes desta crise de valores da nossa época”.

O Rosário por ser, de certo modo, uma oração repetitiva, acaba por criar um clima adequado de oração, que se faz ao ritmo dos batimentos e do respirar do próprio coração. Por ser uma oração, a mais sabida e conhecida, facilita mais a participação de todos os membros, a uma só voz. Por estar tão ligada à meditação dos episódios da vida de Jesus, torna-se uma espécie de “compêndio do evangelho”


Há que rezar bem em casa, para se rezar melhor com a Igreja. Rezar bem na Igreja, para rezar melhor em casa. Encontramos hoje crianças – e não são outras senão as vossas - que chegam ao primeiro ano da Catequese, sem nunca terem feito qualquer experiência de oração. Crianças, que nunca tiveram um minuto de silêncio em casa, para uma breve paragem ou miragem, para olhar um crucifixo, para beijar uma imagem, para pedir uma bênção para o dia que têm pela frente, ou para agradecer um dia que passou, ou enfim para interceder por alguém, que precisa de apoio. Ora é na família que deve ter lugar a prática inicial da oração, de modo a facilitar a própria participação na Oração litúrgica de toda a Igreja.


O que também – diga-se - é, de todo, impossível se a família, pouco a pouco, não leva as suas crianças a participar na Eucaristia dominical. E essa é a forma mais prática de os educar quanto à forma de entrar na Igreja, em silêncio e sem correr, quanto ao modo de venerar o altar, de reverenciar a cruz, de ajoelhar e a saudar Jesus, presente no sacrário. A própria família, nos seus passeios e férias, ao visitar uma Igreja, deve aproveitar a circunstância para advertir os filhos da diferença daquele lugar. E ali rezar com eles.


Para tudo isto, é preciso começar por um silêncio, no qual se oiça a funcionar o motor do frigorífico ou o tic-tac dos ponteiros do relógio ou o bater leve da chuva na vidraça ou até o latir dos cães lá fora. Para depois ouvir, quiça na cadência ritmada de algumas poucas avé-marias, o respirar do próprio Senhor, o som dos Seus passos, no jardim da nossa vida, nos cantos e recantos da nossa casa.


Que Jesus, Maria e José abençoem as nossas famílias e as ensinem a rezar, sem desanimar. Recordai: deste modo construís a vossa família como Igreja Doméstica. E a Paz de Cristo correrá como um rio e reinará para sempre em vossos corações. Assim seja.

Jesus, Maria e José, salvai as nossas famílias !

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