28 de Janeiro - Santo Tomás de Aquino

Santo Tomás de Aquino nasceu perto de Nápoles em 1225. A sua família esperava vê-lo um dia abade do Monte Cassino onde ele fizera os seus estudos fundamentais. Mas o jovem Tomás preferiu a ordem mendicante que São Domingos tinha fundado am 1214 e entra em 1224 superando a oposição da sua família. Ele partiu então para Paris onde foi discipulo de Santo Alberto, o Grande, dominicano alemão cientista naturalista. Foi a primeira das longas viagens que Tomás de Aquino fez através da Europa. Morreu em 1274 na abadia Fossanova, em caminho para o concílio de Lyon.



HOMILIA DO CARDEAL TARCISIO BERTONE


NA INAUGURAÇÃO DO ANO ACADÉMICO DA
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE DE SANTO TOMÁS DE AQUINO - ROMA



Adaptam-se bem a São Tomás de Aquino as palavras do Evangelho que acabámos de ouvir proclamar: "Quem portanto transgredir um só destes preceitos, mesmo mínimos [da Lei e dos Profetas], e ensinar aos homens a fazer o mesmo, será considerado mínimo no reino dos céus. Mas quem, ao contrário, os observar e os ensinar aos homens, será considerado grande no reino dos céus". Tomás começou de longe. O seu caminho foi longo. Sentia-se um apaixonado "filósofo cristão": "Por amor a ti estudei!".


Perseguia uma consciência que, mesmo servindo-se de princípios racionais e métodos filosóficos, se abandonava às inspirações que emanam dos "dogmas", trabalhava em contacto com eles, considerava-os hipóteses fecundas, servia-se das analogias que sugeriam e, mais do que outras coisas, sabendo que eram verdadeiras, imergia a sua mente de pensador no mistério do qual emergiam. Sabia valorizar as duas formas complementares de sabedoria: a filosófica, que se funda na capacidade que o intelecto possui, dentro dos limites que lhe são conaturais, de averiguar a realidade; e a teológica, que se funda sobre a Revelação e examina os conteúdos da fé, alcançando o mistério de Deus.


Protegia a sua inteligência, feita para a "santa verdade". Alimentava o recolhimento interior porque, dizia, quando a inteligência trabalha intensamente, a vontade e as suas capacidades afectivas tendem para enfraquecer. Tomás fazia sua a exortação do Livro da Sabedoria: "Por isso pedi, e foi-me dada a inteligência; supliquei, e veio a mim o espírito de sabedoria" (Sb 7, 7). Rezava incessantemente, ou prostrado ou ajoelhado, diante do altar.



Depois da sua permanência em Montecassino, em 1239, Tomás foi a Nápoles para prosseguir os seus estudos profanos: o Trívio e o Quadrívio e, como coroamento, a filosofia da natureza metafísica. Mas não aconteceu, diz ele, a não ser estimulado por uma paixão maior, a de chegar, através do movimentodo seu espírito e do seu coração, a aproximar-se, a servir, a contemplar o seu Senhor: "cui non appropinquatur passibus corporis sed affectibus mentis" (Summa Th. II II q. 24, art. 4).


A Igreja gostaria de possuir, distintos mas unidos, para um pensamento integral e compacto, dois elementos: a inteligência, filha de Deus, e o Verbo, sua imagem igual. Tomás teve uma e o Outro, de várias formas, de modo a poder fazer de uma profecia uma ciência e poder dizer com o Padre Clésissac: "Esta ciência mais não é do que a iluminação baptismal que se tornou consciente e progressiva" (Le mystère de l'Eglise, p. 7).



À sabedoria auto-suficiente do intelecto humano, que pretende ser regra absoluta, opõe-se a sabedoria que age no desígnio de Deus (cf. 1 Cor 1, 18-31). Se a primeira se baseia sobre o princípio "compreender para crer", a segunda procura ao contrário "crer para compreender". O racionalista aceita também passar toda a vida a discorrer sobre Deus; o homem de fé, ao contrário, reconhece a verdade de Deus (que se faz "verdade sobre o homem" com o seu projecto divino); e então é a verdade que se eleva sobre o trono e quem nele a colocou deve ser o primeiro a ajoelhar-se diante dela, para ser livre ("A verdade libertar-vos-á" Jo 8, 32).



A partir das primeiras páginas da sua Summa Theologiae o Aquinate quis mostrar a primazia daquela sabedoria que é dom do Espírito Santo e introduz ao conhecimento das realidades divinas. A sua teologia permite compreender a peculiaridade da sabedoria no seu vínculo estreito com a fé e com o conhecimento divino. Ela conhece por conaturalidade, pressupõe a fé e chega a formular o seu juízo recto a partir da verdade da própria fé: "A sabedoria elencada entre os dons do Espírito Santo distingue-se da que é colocada entre as virtudes intelectuais. De facto, esta adquire-se com o estudo: a primeira, ao contrário, "vem do alto", como se exprime São Tiago. Assim também se distingue da fé. Porque a fé aceita a verdade divina tal como é, enquanto que é próprio do dom de sabedoria julgar segundo a verdade divina".



A este ponto gostaria de recordar a intervenção que fez o então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, em Outubro de 1999 durante o Sínodo dos Bispos para a Europa, a propósito da fé, do conhecimento de Jesus, de Deus e do nosso ser: "A fé dizia não é o resultado de um consenso maioritário, sempre frágil; a fé precede os nossos consentimentos e dissentimentos, é a pedra sobre a qual podemos construir a casa da nossa vida". E acrescentava: "A fé é uma, recebemo-la da Igreja única e universal, do nós universal dos discípulos de Cristo... A fé é uma fonte de conhecimento. Certas correntes da teologia de hoje procuram uma academicidade pura, consideram a fé um impedimento à cientificidade. Põe-se a fé entre parêntese. O desejo de ser compreensíveis a todos induz também a nós algumas vezes a pôr de lado a fé.



É bom traduzir a fé; é bom desenvolver uma pedagogia para a fé. Mas se, por motivos de oportunidade, deixarmos com muita frequência de lado a fé, a nossa palavra perde o sal, torna-se insignificante. A fé é o bem fundamental da Igreja, devemos fazê-la resplandecer e não escondê-la". A Pontifícia Universidade "Angelicum", funda as suas raízes sobre estes mesmos pressupostos. As Universidades eclesiásticas, de facto, estão chamadas a formar antes de tudo uma comunidade de vida que gera um "nós", o "nós" dos discípulos, chamado "Igreja". Este "nós" torna-nos amigos na pesquisa e "cooperadores da verdade".




Tomás de Aquino, estudante universitário, experimentou a riqueza e a fecundidade desta relação. Com vinte anos foi enviado pelos próprios superiores dominicanos com um objectivo bem estabelecido: frequentar a escola do grande mestre Alberto. Seguirá Santo Alberto Magno a Colónia, onde estudará de 1248 a 1252, um acordo sem regresso e sem retratações. É suficiente pensar na profunda emoção com que o idoso Alberto Magno regressou a Paris em 1277, para defender a memória e a obra de São Tomás de Aquino, injustamente condenado.



Também a vossa Universidade, está chamada a desenvolver um contexto de comunidade de pessoas, que une os responsáveis académicos, os professores dos vários graus, os estudantes, os administradores, os funcionários e todos os que participam directamente na vida da própria Universidade. Uma comunidade universitária verdadeiramente preocupada pelo bem comum. É uma experiência que deve ser cultivada e potenciada para um serviço eficaz à Igreja e à sociedade.



Neste caminho de estudo e de pesquisa, a razão precisa de ser apoiada por um diálogo confiante e por amizades sinceras. Por vezes também a pesquisa sincera dos jovens está circundada por um clima de suspeita e de desconfiança, que ressalta unicamente a crítica, esquecendo o ensinamento dos filósofos antigos, os quais consideravam a amizade como um dos contextos mais adequados para o recto filosofar. Numa sociedade que alcançou a profunda consciência da cooperação e da responsabilidade comum, é importante o trabalho de conjunto de uma comunidade, onde a seriedade e a cordialidade das relações, entre professores e estudantes, ampara cada um na tarefa específica.

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