Nossa Senhora do Rosário


Nossa Senhora do Rosário 


“Eis a escrava do Senhor”
“Fazei tudo o que Ele vos disser”
“Per Mariam ad Jesum”


I- “Eis a Escrava do Senhor”, respondeu ela ao Anjo da Anunciação para proclamar a sua total disponibilidade nas mãos de Deus. Assim, de forma rápida e clara, pôs-se ela, de forma voluntária, na mesma situação em que ficavam, de forma forçada, aquelas cativas ou aqueles cativos de guerra, em total dependência dos captores, sem outra vontade que não fosse a vontade do dominador, sem outra actividade que não fosse a ordenada pelo patrão, sem outro modo de vida que não fosse o indicado pelo proprietário, sem outro lugar senão aquele que o proprietário indicasse. Enfim, eram gente-objecto que se comprava ou vendia no mercado como qualquer animal ou instrumento de lucro; que, inclusivamente, se matava quando pela idade ou doença deixasse de ser instrumento de lucro.

De forma voluntário pôs-se a Virgem Maria sob a exclusiva vontade de Deus como, de outra forma o declarou: “Faça-se em mim segundo a Sua vontade”. E a mesma disponibilidade pede ela a todos nós ao recomendar aos serventes de mesa nas Bodas de Cana: fazei tudo o que Ele vos disser.


II-“Sou a Senhora do Rosário”. Ao proclamar-se tal, quis indicar o mesmo que dissera ao proclamar-se “Escrava do Senhor”; quis repetir que a sua função é fazer a vontade do seu Senhor e incutir em cada ser humano a mesma total disponibilidade nas mãos de Deus; levar cada crente a rezar o Rosário.


E o que é o Rosário? O que é o Rosário senão a meditação das diversas fases da vida de Jesus desde o anúncio do seu próximo nascimento anunciado na terra pelo Arcanjo, até à sua morte, ressurreição e ascenção ao Céu? Em cada mistério do Rosário meditamos uma etapa da vida de Cristo. Enquanto a boca vai expressando o desejo de que “seja feita a vontade de Deus assim na terra como no céu”, vai pedindo que o “pão nosso de cada dia nos dê hoje”, vai suplicando que nos conceda “o perdão das nossas ofensas”, vai louvando aquela a quem Deus, pelo anjo, declarou “cheia graça” em atenção ao “bendito fruto do seu ventre Jesus”,enquanto isso, a mente vai recordando cada uma das passagens da vida de Jesus; vai recordando “tudo o que Jesus e Maria viveram e sofreram para nos resgatarem do pecado e nos assegurarem a salvação eterna”

Na verdade, nos mistérios gozosos recordamos e meditamos as cenas da infância de Jesus desde a anuciação do anjo e sua gestação por obra do E. Santo no seio de Maria;acompanhámo-lo, no ventre de Maria, na visita que fez a sua parente Isabel em cujo seio João Baptista, ainda no sexto mês de gestação , saltou de alegria; cantamos com os anjos o seunascimento na gruta de Belém; acompanhámo-lo até à sua apresentação no templo nos braços de sua Mãe e admiramos a sua sabedoria ao encontrá-lo no templo, criança ainda, a discutir com os doutores da Lei. Assim vamos recordando a infância de Jesus.


Nos mistérios da Luz que se seguem, admirámo-lo na sua vida pública desde a cena do seu Baptismo no Rio Jordão onde o Pai O apresenta como seu Filho querido e o E. Santo desce sobre Ele em forma de pomba; vemo-lo nas Bodas de Canã a manifestar o seu poder divino transformando a água em vinho a pedido de sua mãe; escutámo-lo na sua pregaçãodurante três anos pelas ruas da Palestina, apelando para a conversão e salvação das gentes;extasiámo-nos contemplando a sua transfiguração no Monte Tabor onde novamente nos fala o Pai e nos aparecem os profetas David e Elias que séculos antes haviam anunciado a sua vinda; e ao concluir os mistérios da luz, pasmamos quando, na ceia da despedida, consagra o pão e o vinho tornando-se aí presente com seu corpo, sangue, alma e divindade e deixando-nos o poder de fazermos o mesmo para, como Divino e Humano, poder ficar connosco neste vale de lágrimas que é a Terra. E não só ficar connosco mas ficar em nós: “comei, é o meu corpo; bebei, é o meu sangue”. Ò admirável mistério do amor de Deus! Admirável mistério!!!


Nos mistérios dolorosos, vemos, compungidos, quanto a nossa salvação lhe custou, a começar pela antevisão do terrível martírio por que ia passar causando-lhe uma agonia aterradora no Jardim das Oliveiras a ponto de o fazer transpirar suor de sangue; pasmamos, logo a seguir , como um dos seus discípulos o atraiçoou entregando-o aos inimigos e como estes logo parodiaram um julgamento, o condenaram à frequente pena da flagelação, o ridicularizaram coroando-o de duros espinhos, e depois à morte ignominiosa da Crucifixão,com a agravante de ser ele a ter de transportar a sua cruz. 


Nos mistérios gloriosos exultamos de alegria verificando como, afinal, Jesus venceu a morte, venceu o pecado e venceu os inimigos. Ele ressuscitou. Ressuscitou; coisa que os inimigos logo aceitaram acreditando imediatamente no testemunho dos sentinelas do sepulcro a quem conseguiram subornar com apetecível conta, e coisa que aos discípulos tanto custou a reconhecer. Mas para que não restassem dúvidas, Ele conviveu, comeu, percorreu caminhos com os Discípulos durante 40 dias. A ressurreição tinha de ficar bem clara, bem constatada. E assim foi.


Foi depois a ascenção ao Céu. Cristo, veio do Céu e ao Céu voltou. Do Céu, veio enquanto Deus e na ascenção subiu enquanto Deus e enquanto homem. Mas esta subida não correspondeu a qualquer abandono. Cristo havia dito que seria bom para os discípulos que Ele fosse porque, após sua ida, Ele e o Pai enviariam o E. Santo que lhes ensinaria todas as coisas. Assim aconteceu. É isso que nós contemplamos no 3º mistério glorioso: a vinda do E. Santo sobre N. Senhora e os Apóstolos. E os dois últimos mistérios nos recordam que Jesus não deixa sem recompensa a quem O serve generosamente. É isso o que eles nos querem dizer ao lembrar-nos que a Virgem Maria foi elevada ao Céu em corpo e alma (A Assunção) e aí foi coroada como Rainha dos anjos e dos homens.


Eis a função do Rosário: meditar a Vida de Cristo para agradecermos quanto fez por nós epedir a graça de sermos fiéis ao que Ele espera de nós. Eis a missão de N. Senhora do Rosário: levar-nos a Cristo. A Virgem Maria não é meta onde tudo acaba mas ponto de arranque onde tudo começa. Por outras palavras, Nossa Senhora é ponte. Ponte por Deus construída para que Jesus viesse até nós e ponte que Deus nos oferece para que nós vamos até Ele. É ponte de ligação entre partes que antes estavam separadas; inacessíveis: a Terra e o Céu; o homem e Deus. Ou, se quiserem, N. Senhora é escada por onde Cristo desceu à Terra e por onde nós subiremos para o Céu. Ou ainda, N. Senhora é farol a indicar a pista de aterragem segura ao avião ou a indicar a rota que o barco deve seguir para não encalhar e chegar ao porto seguro. O farol não atrai para si; indica caminho a seguir; a ponte é feita para irmos além e não ficarmos nela; e a escada é feita para subirmos e não para ficarmos a contemplá-la. 


Ponte, escada, farol. Se não usarmos a ponte, não atravessaremos o precipício que nos separa da meta; se não utilizarmos a escada não subiremos ao Céu; se não obedecermos à indicação do farol despenhar-nos-emos em qualquer montanha ou encalharemos nos baixios ou rochedos do mar. Nunca chegará á meta quem rejeitar a ponte ou a escada ou o farol.


Tal como o Verbo de Deus quis precisar de Maria para descer até nós, assim quer aproveitar de Sua Mãe para irmos seguramente até Ele. Mas também não chegará à meta quem não for até ao fim da ponte, quem não subir a escada até ao cimo, quem interromper a orientação do farol. Não quer N. Senhora que paremos nela como muitos fazem. Não falta quem diga: “Nossa Senhora me basta”. Não falta quem vá a Fátima, até com bastante sacrifício, já pela distância, já pelo modo como aí vai (de pé, de joelhos, a pão e água ou até sem água nem pão, etc), mas não vai à Missa ao domingo apesar do local ser de fácil acesso e onde Cristo vem oferecer-se a nós, com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sem falhar. É esse engano que N. Senhora quis desfazer, quer na sua vida terrena quer depois da subida aos céus em todas as suas aparições. Antes como depois, nos ensinou ser ela caminho para ir a Jesus e não obstáculo para a Ele chegar. “Por Maria até Jesus” diziam os antigos Padres da Igreja.


Ainda na Terra nos foi dizendo por palavras e por obras que é a vontade de Deus que deve contar na nossa vida: “faça-se em mim segundo a sua vontade”; “fazei tudo o que Ele vos disser, “que seja feita a Sua vontade assim na terra como no céu” respondeu ela ao anjo, aconselhou ela os serventes e rezou ela diariamente; que é de Deus que tudo recebemos e a quem devemos tudo agradecer: “a minha alma engrandece ao Senhor porque Ele fez em mim maravilhas; a Sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem; derrubou os orgulhosos de seus tronos e exaltou os humildes.

Fazer a vontade de Deus até ao fim da vida, nas boas e nas más horas; na doença e na saúde; na tristeza e na alegria. Sempre. Como Ela. Ela acompanhou Jesus até ao Calvário,“Ela permaneceu junto à cruz”, Ela recebeu Jesus no seu regaço, ao ser descido da cruz ; Ela acompanhou-o ao sepulcro que José de Arimateia prodigalizou. Quanta dor!, quanta angústia!, quanta apreensão!! Mas sempre com Jesus. Sempre! Sempre!!

Enfim, na terra viveu para Jesus, recomendou a que obedecessem a Jesus; que agradecessem a Jesus; que perseverassem com Jesus: fiat, magnificat, stabat.

Uma vez no Céu, parece ter aumentado a sua preocupação de nos atrair para Jesus, ou seja, de levar-nos para o Céu. As muitas aparições na terra não tiveram senão esse fim. Absolutamente todas elas. Tudo para levar a Jesus, indicar o caminho que leva a Jesus e anunciar os perigos provenientes do abandono de Jesus. Basta lembrar as mensagens de Fátima. Ela remata a série de aparições, a 6ª , exactamente naquela em que se designouSenhora do Rosário, com um repetido e veemente 


l: “Pede à Mãe que o Filho atende”.


. Vamos, pois a Maria, N. S. do Rosário, na certeza de que, por ela, chegaremos a Jesus, ao Céu, à salvação.

-Senhora do Rosário, Rogai por nós. Rogai por nós que repedido: “não ofendam mais a N. Senhor que já está muito ofendido” (6ª ap.).

E às inocentes crianças e, através delas, a todos nós, Ela continua a pedir que desagravemos o Coração de Jesus: aceitai os sofrimentos da vida “em acto de reparação pelos pecados com que Deus é ofendido (1ª ap); para que Deus seja amado; sacrificai-vos por amor a Jesus; não ofendam mais a Deus que já está muito ofendido( 6ª ap.) E se N. Senhora alguma coisa pede para ela, é porque essa é a vontade de Deus: “Jesus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”(2ª ap.) Ele quer que o Imaculado Coração de Maria seja desagravado dos pecados cometidos contra Ele (3ªap.).

Enfim, tanto na terra como no céu a preocupação única de Maria foi e é levar-nos para Jesus. Foi e é a sua preocupação confirmar os dizeres bíblicos sobre a função salvadora de Jesus. É que é em Jesus, e só em Jesus, que está a salvação. Por isso é que o anjo indicou a José que desse ao Filho de Maria e do E. Santo o nome de Jesus, que quer dizer, “Salvador,porque salvará o seu povo” (Mt.1,21); por isso, o mesmo anjo anunciou aos Pastores que “na cidade de David nascera o Salvador que é Cristo, o Senhor” (cf. Lc. 2,11); por isso cantou Zacarias que o “Senhor visitou e redimiu (salvou) o seu povo”(Lc. 1,69) e por isso os habitantes de Samaria puderam dizer à sua conterrânea que já não era pelo que ela lhes dissera mas “porque nós mesmos o vimos e ouvimos, «sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo”» (Jo. 4,42); Aquele “ Em nenhum outro há salvação” (Act. 4,12); O “Cristo que veio ao mundo para salvar os pecadores” (1Tim.1,15)


Para Jesus é que ela nos aponta e guia. Mas também é certo o ditado de que “quem meus filhos beija, mina boca adoça”; e o outro: “quem honra meus pais, meu coração alegra”. É assim. Nada se faz aos filhos, de bom ou de mau, que não faça vibrar o coração dos pais e nada se faz aos pais que não faça eco no coração dos filhos. Em famílias unidas, assim é.


Vamos, pois a N. Senhora que Ela nos levará a seu Filho ou vamos ao Filho e faremos vibrar o coração da Mãe. 


Por isso gostei muito do letreiro que li à entrada do enorme recinto do Santuário de N. Senhora Aparecida no Estado de S. Paulo, no Bracorremos a vós. Rogai também por aqueles filhos (as) desta terra que mourejam por esse mundo além ou que, por qualquer motivo sério não puderam estar hoje aqui; rogai pela nossa Pátria, a antiga e justamente proclamada “Terra de Santa Maria”, mas hoje tão desorientada, tão de costas para vós e vosso Filho, onde, por isso, se aprovam leis aberrantes de extermínio de inocentes, de anti-natureza no homosexoalismo, da prática, ainda não aprovada mas já executada, da eutanásia, da destruição de famílias por dá cá aquela palha), rogai pelos nossos governantes para que saibam que estão para servir e não para servir-se; rogai pela hierarquia da Igreja para que tenha sempre a coragem de denunciar o abuso de todas as ordens (políticos, sociais, morais, económicos, etc.)– Rogai por nós, Senhora, Mãe, que recorremos a vós. AMEM.

Igreja Matriz de Gondomar/S. Cosme e Damião


02 de Outubro de 2011

+Abílio Ribas, Bispo Emérito de São Tomé e Príncipe
fonte:http://www.saocosme.com/

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