Festa da Purificação (Nossa Senhora das Candeias) - 02 de Fevereiro de 2016


“Luz para iluminar as nações.”

Celebramos hoje uma grande festa. A festa da Purificação de Nossa Senhora, festa também conhecida como Nossa Senhora da Candelária ou das Candeias, justamente pela procissão com velas que se realiza durante esse dia. Nesse dia, celebramos a purificação de Nossa Senhora no Templo e a Apresentação do Menino Jesus no Templo, em cumprimento da Lei Mosaica. Segundo a Lei, a mulher que tinha dado à luz contraía uma impureza legal, que deveria ser tirada com a oferta de um sacrifício no Templo. Segundo a Lei, o primogênito deveria ser apresentado no Templo, e consagrado inteiramente ao serviço de Deus, para demonstrar o soberano domínio de Deus sobre os homens e também em ação de graças pelos primogênitos judeus poupados, quando os primogênitos dos egípcios foram exterminados, a fim de que o povo judeu pudesse se livrar da escravidão. Todavia, depois que a tribo de Levi foi designada para servir no culto divino, os primogênitos deviam ser resgatados pelo valor simbólico de 5 ciclos.


Evidentemente, Nossa Senhora e o Menino Jesus não estavam obrigados a seguir a Lei nesses pontos. Vejamos porque Nossa Senhora não precisava de purificação. Para isso, devemos entender o que era a impureza legal e o que significava a impureza legal contraída no parto.

A impureza legal não era uma impureza moral. A impureza legal não era, portanto, um pecado. A impureza legal era algo puramente exterior e tinha por objetivo lembrar a existência do pecado, a fim de evitá-lo ou a fim de remediá-lo, se já havia sido cometido. As diversas impurezas legais figuravam os diversos pecados. Assim, por exemplo, a impureza contraída pelo contato com um cadáver avivava a verdade de que o pecado é a morte da alma. A impureza legal tinha como consequência o fato de que a pessoa não podia tocar nas coisas sagradas nem entrar no santuário até ter cumprido o rito de purificação, significando que o pecado separa de Deus e impede a entrada no céu.

A impureza legal da mãe era contraída quando essa concebia com a cooperação de um homem e simbolizava a impureza do pecado original com que a criança nascia. Durante 40 dias, se fosse menino, ou 80, se fosse menina, a mãe não podia tocar nas coisas santas nem entrar no Santuário. Como dissemos, Maria não estava sujeita à impureza legal advinda do parto. Primeiramente, ela concebeu do Espírito Santo e não de um homem. Segundo, ela não possuía qualquer pecado que pudesse ser figurado pela impureza legal. Ela foi concebida sem o pecado original e continuou intacta durante toda a sua vida, esmagando perfeitamente a cabeça da serpente, do demônio. Terceiro, Nossa Senhora deu à luz a Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, que não podia ter pecado original e nenhum outro tipo de pecado.

A prova cabal de que Nossa Senhora não precisava da purificação está no fato de que, durante os quarenta dias que antecederam sua ida ao Templo, ela cuidou do Menino Deus, alimentando-o, vestindo-o, prestando todo o cuidado que uma mãe deve prestar para com o seu filho. Ora, acabamos de dizer que a impureza legal não permitia que se tocasse em coisas santas ou que se entrasse no Templo. Nossa Senhora, porém, toca naquilo que pode haver de mais santo, que é o Corpo de Deus feito homem. Ela tem contato com o Templo do Novo Testamento, que é o Corpo de Cristo, e que é infinitamente mais santo que o Templo de pedra. Somo obrigados a concluir que o pecado está tão longe de Nossa Senhora, que ela não possui, aqui, nem mesmo uma impureza legal. Nossa Senhora é nosso exemplo de ódio ao pecado e de amor a Deus e ao próximo.

Também o Menino Deus não precisava ser apresentado no Templo para ser consagrado a Deus, como dissemos no Domingo dentro da Oitava do Natal. Cristo não apenas pertencia inteiramente a Deus desde o momento de sua concepção no seio virginal de Maria Santíssima, como é o próprio Deus. Além disso, é evidente que Cristo não precisava ser resgatado. Quem nos resgata e nos redime é Ele. Não pode ser resgatado o que resgata. Não obstante, Nossa Senhora e o Menino Jesus observaram perfeitamente a lei pelos motivos já mencionados em sermão anterior: mostrar que a lei de Moisés era boa, impedir as calúnias dos judeus, nos livrar do jugo pesado da lei mosaica, consumá-la e dar exemplo de obediência perfeita.

Há nessa purificação, porém, alguns outros ensinamentos que Nossa Boa Mãe, Maria, quer nos dar. Nossa Senhora vai ao Templo consagrar o Menino Jesus a Deus. Como todas as mulheres israelitas, ela resgata a criança pagando o valor estabelecido. Todavia, se para a maioria das mulheres o oferecimento do filho a Deus é simbólico, para Nossa Senhora ele é bem real. Simbólico, para Maria, é o resgate. Nossa Senhora sabia perfeitamente quem era seu Filho, ela conhecia perfeitamente as profecias. Ela sabia que Cristo veio ao mundo para fazer a vontade de Deus, que Ele veio para se ocupar exclusivamente das coisas de Deus. Ela vai, então, ao Templo apresentar seu Filho para manifestar a sua total conformidade com a Missão dEle e para associar-se a essa Missão, consentindo no oferecimento que seu Filho fará de si mesmo anos mais tarde. Ela age para a maior glória de Deus e para o bem de nossas almas.

O que ela recebe em troca? Uma espada em seu Coração Imaculado. Nossa Senhora entrega inteiramente o Menino Jesus a Deus. Ela entrega seu maior tesouro, abandonando-se à vontade divina. E nós? Nós queremos guardar o pecado. Nós queremos guardar as nossas vãs ocupações. 




Nossa Senhora não teme, para servir à Santíssima Trindade, perder prematuramente a companhia de seu Filho, que é Deus. Nós, para servir à Santíssima Trindade, nós queremos guardar nossas más inclinações, nossas negligências, nossos pecados. Nossa Senhora oferece seu Filho e recebe a espada. Nós oferecemos migalhas e queremos as alegrias e a felicidade desse mundo. 


Nossa Senhora nos ensina a amar a Deus, oferecendo-lhe aquilo que tem de mais precioso e ela nos ensina a sofrer. Eis o exemplo que devemos seguir: amar, entregando a Deus tudo o que somos e tudo o que possuímos, decidindo de uma vez por todas converter-nos inteiramente a Deus. Eis o exemplo que devemos seguir: sofrer por Ele, para expiar por nossos pecados, para provar nosso amor a Deus. Sofrer porque o bem que amamos – Deus – é odiado por muitos. Mas sofrer com alegria profunda e com serenidade, sem se preocupar com o mundo, inimigo de Jesus Cristo e de sua Igreja.

Não há outro caminho: para salvar-se é preciso amar a Deus, cumprindo seus mandamentos, convertendo-se inteiramente a Ele. Para salvar-se, é preciso sofrer e sofrer bem, unindo-se à Cruz de Cristo e à espada de Maria.

Devemos poder cantar com o velho Simeão em cada momento de nossas vidas: “Agora, Senhor, podes deixar partir o teu servo porque os meus olhos viram a tua salvação.” Não amanhã, nem daqui a pouco. Agora, caros católicos. É agora que devo estar preparado para ver Deus. Só podemos ousar dizê-lo junto com Simeão, se entregamos a Deus aquilo que temos de mais precioso – todo o nosso ser – e não só migalhas. Deus não quer migalhas. As migalhas não nos levarão para o céu. É preciso amar e sofrer, como nos mostra Nossa Senhora. É preciso entregar tudo, tudo, sem exceção – nossa inteligência, nossa vontade, nossa saúde, nossos bens, nossas ações – é preciso entregar tudo a Deus pelas mãos de Nossa Senhora. É preciso que nos convertamos definitivamente. Busquemos a confissão, resolutos de mudar radicalmente de vida. Recorramos à Maria, para ter essa firmeza de nos converter definitivamente a Deus, sem olhar para trás, sem pensar no que deixamos para servi-lo. Recorramos à Maria, a fim de que possamos carregar em nossa alma a luz que ilumina as nações. Carregamos durante a procissão a vela, a luz. Essa vela, essa luz, é Cristo. É preciso carregá-lO, é preciso confessá-lO publicamente, é preciso guardá-lO ardendo em nossas almas. Só poderemos fazê-lo com o auxílio de Maria. Cristo quis vir ao mundo por Maria, Ele quer transmitir seus infinitos méritos por meio de Maria, Ele quer que cheguemos ao céu pelo mesmo caminho que usou para descer até nós: por Maria. Ele poderia ter feito de outro modo, mas quis fazê-lo por Maria. E para nós é um grande bem contar com uma protetora que oferece seu próprio Filho – homem e Deus – para nos salvar. Ela oferece seu Filho para nos salvar… Seu Sacrifício na Cruz se renovará dentro de instantes sobre o altar… Ela ofereceu seu Filho para nos salvar… Cristo ofereceu-se a si mesmo para nos salvar. E nós, o que nós entregamos a Deus para nos salvar? Migalhas? Ou tudo o que somos e possuímos?

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.



Sermão para a Festa da Purificação de Nossa Senhora
02 de fevereiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro
http://missatridentinaembrasilia.org

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A História de Nossa Senhora do Rosário de Chiquinquirá - Padroeira da Colombia

Meditação para Quaresma V - A Sagrada Face do Senhor