Agosto - Mês das Vocações Religiosas
Promover as Vocações Sacerdotais e Religiosas
Que os leigos e as comunidades cristãs se tornem promotores
responsáveis das vocações sacerdotais e religiosas.
(Instrução Pastoral do Santo Padrre Bento XVI sobre as vocações - Maio 2012)
1. A existência humana: dom e chamamento
A existência humana é, à luz da revelação bíblica, “dada” e “chamada” por Deus. “Dada” porque é dom absolutamente livre de Deus, o qual cria, por amor, aquilo que não existia e, por um amor de todo particular, cria o ser humano “à sua imagem e semelhança”; “chamada” porque ser “à imagem e semelhança de Deus” ultrapassa a simples condição de criatura, é chamamento (vocação) a uma relação íntima com o Criador, para viver segundo o seu amor, na alegria da sua presença. A narrativa bíblica da criação do ser humano é elu-cidativa a este respeito – elucidativa também relativamente ao modo como o ser humano, desde o início, põe em causa este chamamento/vocação, procurando assenhorear-se da própria existência, rejeitando a condição de criatura “dada” por Deus e, assim, negando a sua vocação: ser imagem e semelhança do mesmo Deus (cf. Génesis 1, 26 – 2, 2; 2, 7-20).
2. Ser cristão: graça e vocação
Aquilo que se verifica no acto criador de Deus, desde as origens,
aprofunda-se de modo particular, para os cristãos, no baptismo. Este é
pura graça de Deus, por meio da qual o discípulo de Jesus “nasce de
novo” (João 3, 5 ss) para a plenitude da “imagem e seme-lhança de Deus” –
agora vivida como adesão a Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito um de
nós, e plena identificação com Ele. Repetem-se o “dom” e o “chamamento”,
não para trazer à existência mas para instaurar essa existência numa
plenitude de sentido absolutamente para além de qualquer possibilidade
humana e numa relação com Deus que passa da antiga “imagem e semelhança”
à dignidade de Filhos – o “sereis como Deus” (cf. Génesis 3, 4-5),
prometido pela antiga serpente como conquista humana e agora recebido
como plenitude de graça, por meio do Espírito Santo.
3. “Ter vocação” ou “ser chamado”?
3. “Ter vocação” ou “ser chamado”?
A vocação não se “tem” como algo próprio, conquistado ou devido por
direito – nem a vocação à existência, nem à redenção, nem a desempenhar
qualquer tarefa que seja, na Igreja. Não existe essa vocação que se
teria como coisa disponível. Há um chamamento – a vocação é exterior à
pessoa, apanha-a desprevenida, desinstala-a e muda-lhe o curso da
existência. Assim aconteceu com Abraão, Moisés, os profetas, os
apóstolos, Paulo... Assim acontece – deveria acontecer – com cada
cristão. Em tempos de cristandade, porém, as coisas mudaram e, embora
sem negar a iniciativa de Deus, o “chamamento” acabou conver-tendo-se em
algo próprio de poucos, que “tinham” vocação. Desaparecido o ambiente
de cristandade, com grande parte dos nossos contemporâneos oscilando
entre a indiferença religiosa, o agnosticismo e o ateísmo, importa
recuperar a percepção original da vocação como chamamento a seguir
Cristo e a tornar-se membro da comunidade nova dos seus dis-cípulos. O
resto – carismas, ministérios, entre eles, o de presbítero – virá por
acréscimo. Não quer isto dizer que as vocações de serviço, na Igreja,
não sejam importantes e que, concretamente, a Igreja possa seguir
adiante sem o sacerdócio ministerial. Quer dizer, ape-nas, que é
necessário olhar para a vocação a estes ministérios integrada na vocação
primei-ra: o chamamento a ser discípulo de Cristo e membro da Igreja.
4. Comunidades cristãs e vocações sacerdotais e religiosas
4. Comunidades cristãs e vocações sacerdotais e religiosas
Leigos e comunidades cristãs promotores responsáveis de vocações
sacerdotais e religiosas são, em primeiro lugar, leigos e comunidades
cristãs conscientes da graça que lhes foi concedida e atentos ao
chamamento/vocação que lhes foi feito: ser discípulos do Senhor Jesus.
Em comunidades assim – orantes, assíduas aos sacramentos, atentas ao
ensino da Igreja, fortes na fé, alegres na esperança, solícitas na
caridade para com todos – o Espírito não deixará de chamar aqueles que
escolheu para os diversos ministérios, e nem as comunidades ficarão sem
presbíteros nem a vida de consagração religiosa sem cristãos e cristãs
que a ela se entreguem. Talvez não segundo os modelos do passado. Talvez
em formas novas, de gente que, não “tendo” vocação, está à escuta do
que o Espírito diz à Igre-ja e disponível para acolher o chamamento que o
mesmo Espírito, através da Igreja, lhe possa fazer – sabendo que por aí
passa, de modo definitivo, a sua realização pessoal, a plenitude da sua
“imagem e semelhança com Deus” e da sua filiação divina, em Jesus
Cris-to. Cristãos assim experimentarão o fogo do Espírito, chamando-os a
aprofundar o seu estilo de vida cristã, mudando-lhes a direcção,
mostrando-lhes como têm andado alheios à graça ou resistido ao seu
chamamento. Com temor e tremor, serão capazes de se compromete-rem
definitivamente ao serviço da comunidade cristã e, nesta e com esta, ao
serviço da humanidade inteira, mesmo não sabendo, na altura, tudo quanto
tal compromisso implica ou quanto terão ainda de mudar, libertos de si e
entregues ao poder santificador do Espírito – ao estilo de Abraão,
partindo para uma terra desconhecida, agarrado a uma promessa e confiado
na Palavra d’Aquele que o chamava.
fonte : www.ecclesia.pt
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