Novenário de Nossa Senhora do Carmo



"O calendário litúrgico é cheio de festas que nos convidam a refletir sobre os mistérios da nossa vocação cristã e a sentir ao nosso lado a presença de Deus. Celebramos com alegria as festas dos santos, amigos nossos e de Deus, que souberam acolher a Palavra e vivê-la com intensidade, tornando-se para nós modelos de vida. Entre todas as pessoas que passaram por esta terra, Maria ocupa um lugar de destaque. Ela, Mãe de Jesus e nossa, repete aos nossos ouvidos distraídos: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

O mês de julho nos recorda uma festa querida ao coração dos fiéis: Nossa Senhora do Carmo. Um título diferente, que tem história e significado próprios. O nome Nossa Senhora do Carmo está relacionado ao Monte Carmelo, que na Bíblia tem uma menção especial por ser o lugar das inspirações proféticas de Elias, um instrumento de Deus a serviço do povo sofrido. Elias busca o Senhor, ama as leis de Deus e sofre por ver o povo oprimido pela injustiça e escravo da idolatria. Então, com sua palavra e seu testemunho, derrota os profetas de Baal e, consumido de amor pelo Deus vivo, restaura no meio de Israel a primazia de Deus.

A palavra Carmelo, em hebraico, significa “vinha fértil, jardim florido”. Nesta montanha, conserva-se a memória de Elias através dos séculos, pela presença dos carmelitas descalços, que tomam conta do santuário de Nossa Senhora do Carmo.

Um pouco de história

O século XIII é conhecido como o século das cruzadas, quando a Igreja, preocupada pelas invasões da Terra Santa por parte dos muçulmanos, decide intervir militarmente para defender e resgatar o “santo sepulcro” – É claro que o fenômeno das cruzadas não pode nem deve ser julgado com os critérios de hoje, mas devemos ter presentes as situações sociais e religiosas do tempo.

Também nesse período, alguns eremitas se refugiam no Monte Carmelo e iniciam um estilo de vida solitário. Havia naquele lugar uma nascente de água, chamada fonte de Elias, que servia para todos os eremitas e eles se reuniam ali, perto dessa fonte, para tomar água e conversar sobre os projetos de vida monástica. Alguns monges sentiram mais tarde a necessidade de pedir a Alberto, patriarca de Jerusalém, uma regra. Assim surgiram os carmelitas, que construíram uma igreja em honra de Nossa Senhora.

O nome carmelita surge, portanto, do lugar das reuniões desses monges, que se apresentam com seu título oficial conservado até hoje: irmãos da bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.

O escapulário

Nossa vida é marcada por “sinais” que nos revelam uma realidade escondida. A maior parte da nossa linguagem acontece através de sinais que nos permitem melhor compreender os porquês de nossa existência. No fim do século XIII, os carmelitas já se tinham estabelecido em vários lugares da Europa: França, Itália, Inglaterra... As coisas da Ordem não iam bem. Os carmelitas encontravam dificuldades por todas as partes.

A vida religiosa estava em clara decadência. À frente do grupo, como geral da Ordem, havia um homem santo, Simão Stok, que era muito devoto de Nossa Senhora do Carmo. Ele pedia constantemente a Nossa Senhora que viesse em ajuda e lhe mostrasse um sinal do seu amor. Maria, segundo a tradição, teria lhe aparecido e dado o Escapulário, como sinal de seu amor e proteção. E todos os que usassem este sinal receberiam a proteção da Virgem Maria e a salvação. Desde então, foi se difundindo o escapulário de Nossa Senhora do Carmo como sinal desta devoção e deste amor dos frades para com Nossa Senhora. Esta visão de São Simão Stok é envolvida na névoa da lenda do mistério e não é fácil compreender a verdade total. Por isso os historiadores muitas vezes mostram-se desconfiados.

Seja qual for a interpretação que podemos dar do fato, o valor do escapulário não está na veracidade histórica da visão, mas no seu significado e importância na nossa vida. O escapulário, que o povo chama de “bentinho”, é um sinal trazido para a América Latina pelos conquistadores e os primeiros evangelizadores.

Hoje não se fala mais do escapulário como sinal recebido por Simão Stok das mãos de Maria, mas do seu significado simbólico de pertença a Maria e de compromisso com Jesus no processo evangelizador. No momento atual, depois das crises de desacralização dos anos 70 e 80, está voltando na vida do povo toda a presença da simbologia externa para revelar a fé, como medalhas, crucifixos e símbolos – por exemplo, o Tau do Shalom e o escudo carmelita –. O escapulário também se faz presente na vida de muitas pessoas.

O que o escapulário não é

É bom colocar em evidência que o escapulário, como qualquer outro sinal, não é um amuleto, não trás sorte para ninguém; nem algo de mágico, que pelo simples fato de trazê-lo consigo assegure a salvação e resolução de todos os problemas –. O escapulário não é nada disso. Todas as devoções devem ser purificadas de toda magia ou de todo interesse que não faz parte do processo da fé.

Na vida de fé não há esse espírito de magia nem de esoterismo. Não se usa um escapulário porque fica bonito ou porque todos usam ... não é uma moda. Por isso que não se insiste mais sobre o famoso “privilégio sabatino”, pelo qual quem usasse o escapulário sem nunca tirá-lo, e morresse com ele, teria a salvação certa e Nossa Senhora viria buscá-lo no purgatório no sábado depois da morte. Não é como um contrato com Nossa Senhora. Nesse sentido, devemos desmitificar o escapulário para não agir por interesses. Na fé se age por amor e gratuidade.

Um sinal de devoção

O escapulário, que pode ser considerado como um “pequeno hábito”, é um dos mais belos sinais de devoção a Nossa Senhora. Maria para nós não é algo de acessório ou supérfluo; ela faz parte da nossa devoção e amor a Jesus. Não se pode amar a Jesus sem acolher com amor filial a pessoa de Maria, nossa Mãe. Ela foi escolhida por Deus para ser a Mãe de Jesus e continua na nossa história, é presença em nossa vida. Maria se apresenta como caminho que nos leva a Jesus. Ela nos toma pela mão e nos protege e cobre com seu manto amoroso.

O escapulário é, portanto, para nós sinal deste amor, um compromisso a viver as virtudes de Nossa Senhora, a imitá-la.

O sinal do escapulário também nos une à grande família do Carmelo e nos faz anunciadores destemidos do Reino de Deus. Quem ainda não tem o escapulário seria bom recebê-lo e ser-lhe fiel. A devoção do escapulário não é compromisso particular nem se opõe a carisma algum, o único compromisso é viver como Maria e difundir sua devoção.

O escapulário é sinal de amor, de engajamento em toda a espiritualidade de Nossa Senhora. Quem ama Maria não esconde este amor, mas faz o possível para que ela seja conhecida e amada. Santa Teresinha do Menino Jesus amava tanto a Maria que na sua poesia “Porque te amo, Maria”, recorda que Maria é aquela que nos faz conhecer Jesus e nos protege em todos os momentos de nossa vida. Embora ela tivesse dificuldades em rezar o terço, nunca deixou de fazê-lo, manifestando assim o seu grande amor a Maria.

Hoje, mais do que nunca, num mundo marcado pelo egoísmo globalizado, onde tudo se faz por interesse, é importante redescobrir a gratuidade no nosso relacionamento com os homens e com Deus: o escapulário é sinal de amor gratuito a Maria, e quem ama gratuitamente a Maria, pode ter a certeza de ser por ela protegido e que ela nos apresentará ao seu Filho Jesus.
Fonte: Revista Shalom Maná
 
Frei Patricio Schiadini - OC
 

Novena e Festa de Nossa Senhora do Carmo
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