Exposição do Santo Sudário - Turim - Itália


Aproximadamente 1,8 milhão de peregrinos estão sendo esperados em Turim, cidade localizada no norte da Itália: todos desejam ver a relíquia mais preciosa da Igreja, o Santo Sudário, que será exposto na catedral da cidade, pela primeira vez depois de uma década, até a Festa de Pentecostes, informou a Agencia Alemã de Notícias Deutsche Welle. O Flos Carmeli apresenta aos seus leitores um interessante artigo de autoria de D. Estevão Bitencourt, OSB a seguir :


A mais recente descoberta relativa ao Santo Sudário



Em síntese: O Santo Sudário está de novo em foco. No primeiro semestre de 1996 descobriram-se vestígios de uma Segunda moeda colocada, esta, sobre o olho esquerdo do homem que estava envolvido nessa peça mortuária. Tal moeda (lepton) foi reconhecida como datada dos anos 29/30 d.C., ou seja, dos tempos do Senhor Jesus. Este achado mais uma vez afasta a hipótese de se tratar de um pano medieval e corrobora a tese da autenticidade do Sudário. Os vestígios da outra moeda, colocada sobre o olho direito do cadáver conforme os costumes de sepultamento dos antigos, já foram encontrados em 1979. É de crer, pois, que o Sudário seja genuíno. Todavia deve-se notar que a fé não se baseia na autenticidade de alguma relíquia ou de alguma descoberta científica.


O Santo Sudário de Turim é tido por bons pesquisadores e por fiéis devotos como a mortalha que envolveu o corpo de Jesus Cristo descido da Cruz. Os traços neles impressos revelam um homem de grande estatura, que terá sofrido todos os tormentos de que fala o Evangelho ao narrar a Paixão de Cristo. Vários exames científicos têm levado a crer que realmente se trata de uma peça muito antiga, sendo altamente provável que haja envolvido o Corpo de Jesus morto.



A história do Sudário foi apresentada em PR 119/1969, pp. 466s; a descrição da imagem respectiva encontra-se em PR 320/1989, pp. 34-43. Sabe-se que aos 13/10/1988 pequenos fragmentos do Sudário foram submetidos ao teste do Carbono 14 em três Laboratórios, a saber: em Oxford, Zürich e Tucson... O resultado do teste foi surpreendente, pois punha em xeque todas as conclusões de peritos médicos, bioquímicos, biofísicos, historiadores, pessoal da NASA e dava a crer que a mortalha data da faixa dos anos 1260-1390; a imagem terá sido obra de um pintor medieval. Ver a propósito PR 322/1989, pp. 98-103; 329/1990, pp. 467-472; 341/1990, pp. 473-477; 387/1993, pp. 482-487.



Após o teste do Carbono 14, vários cientistas refletiram sobre os fatos e propuseram ponderações que realmente dissuadem da veracidade dos resultados do teste do Carbono 14; ver subtítulo 2 deste artigo. A quanto tem sido dito sobre a autenticidade do Sudário acrescentou-se em julho de 1996 uma nova descoberta, que, segundo alguns pesquisadores, afasta qualquer dúvida que contrarie a genuinidade da peça. Eis os eventos respectivos:

1. A DESCOBERTA DOS VESTÍGIOS DE UMA MOEDA

Dois cientistas italianos , de renome internacional, os Professores da Universidade de Turim, Dr. Luigi Baima Bollone, médico, e o Dr. Nello Balossino, perito em investigações computadorizadas, Identificaram a marca deixada sobre o olho esquerdo da imagem por uma pequena moeda chama lepton. É de notar que os antigos, no tempo de Jesus, costumavam colocar uma moeda sobre cada um dos olhos do cadáver.


Utilizando a tecnologia avançada do computador, os dois cientistas italianos puderam averiguar que a moeda cujos vestígios foram encontrados, foi cunhada no 16º ano do reinado do Imperador Romano Tibério, que começou a reinar em 14 d.C., a data de origem da moeda corresponde portanto aos anos 29/20 da nossa era. Verificam-se que a moeda colocada sobre o olho esquerdo escorregou para trás, sobre a fronte, talvez por causa da inchação do cadáver; fora colocada sobre o olho do defunto de tal modo que a data respectiva ficasse claramente visível.



A outra moeda, que, localizada sobre o olho direito, fazia parelha com a recém-descoberta, já fora identificada em 1979 pelo jesuíta Pe. Francis Filas, teólogo da Universidade Loyola de Chicago; foram os seus vestígios confirmados pelo monetário italiano Mario Maroni em 1985. Foi precisamente a identificação dessa primeira moeda que levou os cientistas Bollone e Balossino a pesquisar os traços da eventual Segunda moeda. Recorrendo a uma série de análises computadorizadas, o Prof. Balossino comparou a Segunda moeda a moedas tidas como autênticas peças do tempo de Cristo, tais como se encontram no catálogo de moedas da Palestina guardadas no British Museum. Mas ainda: a Segunda moeda corresponde exatamente a um exemplar de moedas romanas da coleção do monetário italiano Cesare Colombo. Os dois pesquisadores italianos julgam a sua descoberta apta a resolver o mistério do Sudário, pois confirma irrefutavelmente a tese de que se trata de uma peça datada do tempo de Cristo, e não medieval. São palavras do Prof. Bollone:



“Não precisamos mais de apelar para testes ou cálculos. Temos agora uma prova intrínseca, claramente estampada, podemos dizer, sobre o próprio Sudário. Nenhum artista medieval pode ter realizado tal obra”. A 7 de Julho de1996 o Prof. Bollone declarou ao jornal Avvenire: “Na minha opinião, esta última descoberta é precisamente a prova cabal de que o Sudário de Turim envolveu realmente o Corpo de Cristo crucificado e sepultado”. Verdade é que o jornal Le Monde, de Paris, aos 3/7/1996 publicou comentários do Prof. Jean-Michel Maldame, que defendiam a autenticidade do teste do Carbono 14: alegava que na Idade Média era usual fabricar relíquias falsas para atrair peregrinos de longe, e concluía que os defensores da autenticidade do Sudário não poderiam ser tidos como seguidores de séria disciplina intelectual.


A estes dizeres o Prof. Bollone respondeu num programa de televisão italiana chamado Mixer: “neste dias nenhum pensador idôneo – como bem prova a bibliografia especializada – acredita na tese da “tardia Idade Média”, sugerida pelo teste do Carbono 14 radioativo efetuado em 1988... O Sudário é marcado por traços anteriores à data estabelecida pelo C 14. Estamos agora de posse de elementos intrínsecos (pertinentes ao próprio Sudário) derivados das marcas das moedas, que levam a atribuir essa peça à data de 30 d.C.”.



2. E OS RESULTADOS DO TESTE DO C 14?

Atualmente os estudiosos reconhecem que, no decorrer dos séculos, diversos fatos produziram a contaminação do Sudário, tornando impossível estabelecer a sua data de origem mediante o teste do C 14. Com efeito. Em 14/4/1503 o tecido foi colocado em óleo fervente para se testar a fixidez ou a indelebilidade da respectiva imagem.  A 4 de Dezembro 1532 deu-se um surto de incêndio na capela de Chambéry (França), onde o Sudário era guardado. A prata da caixa que encerrava essa peça, derreteu-se, e pingou sobre a mortalha; em conseqüência, reações químicas causadas pelo fogo devem ter aumentado a quantidade de carbono que se achava depositado entre as fibras do tecido. Ora isto não pode deixar de ter provocado graves erros na avaliação pelo C 14.



O Prof. Leôncio Garza Valdes, da Universidade do Texas, especialista do Departamento de Microbiologia, examinou um conjunto de fungos e bactérias que, através dos séculos, se depositaram sobre o Sudário e puderam causar equívocos por ocasião do teste do C 14. Além disto, é notório que o Sudário foi tocado por muitas mãos (mãos limpas e mãos sujas), que deixaram algum resíduo sobre o pano respectivo.  Sabe-se de resto que a história do S. Sudário é acidentada: passou por várias vicissitudes, que explicam o aumento de carbono entre as fibras do seu tecido. A santa mortalha aparece, pela primeira vez, como se crê, em 544 na cidade de Edessa (Síria); depois julga-se que reaparece em Constantinopla em 944; mais tarde, em 1353 em Lirey (França); em 1452, em Chambéry (França), e finalmente em Turim no ano de 1578.



Estes e outros dados de uma história muito complexa levam a desacreditar dos resultados do teste de 1988. Verdade é que nem todos os cientistas estão convencidos da autenticidade do Sudário – o que se compreende, pois a ciência nunca pára de investigar e está sempre a fazer reservas diante das conclusões mais plausíveis a que chegue.



3. A POSIÇÃO DA IGREJA

A Igreja não faz questão de afirmar a autenticidade do Sudário como se esta fosse indispensável para respaldar as verdades da fé. A Igreja, no caso, entrega o juízo aos cientistas, pois o assunto é mais da alçada da ciência do que da fé. A propósito o Cardeal Giovanni Saldarini Arcebispo de Turim e Guardião do Santo Sudário, pronunciou-se em programa de televisão aos 7/7/1996:  “A imagem nos apresenta o seguinte problema: estamos nós contemplando mera criação artística ou, ao contrário, a verdadeira figura de Jesus como era após a sua paixão e morte? Esta não é uma questão de fé. Os fiéis gozam de absoluta liberdade para crer ou não crer nos dados fornecidos. Ninguém jamais tentou servir-se do Santo Sudário para provar a fé cristã. A fé não se funda sobre imagens nem sobre relíquias nem sobre descobertas científicas. Doutro lado, se se pode demonstrar que o Sudário reproduz realmente a imagem de Jesus Cristo, os não crentes terão mais dificuldade para sustentar a incredulidade”.



O Pe. Giuseppe Ghiberti, teólogo e Assistente do Cardeal Saldarini, também se manifestou sobre o assunto:
“Creio que, antes do mais, toca à ciência avaliar esta última descoberta. Se for tida como genuína, as conseqüências da mesma não serão desprezíveis. Ter-se-á uma nova modalidade de evidência histórica que até hoje nenhum documento escrito e nenhuma peça arqueológica nos proporcionou”.



Interessantes são as ponderações da Profª. Emanuela Marinelli, autora de um dos mais recentes livros sobre o Sudário: “O Sudário é um documento que interpela profundamente: se é autêntico, é fruto de um amor sobre-humano; se não é autêntico, é fruto de um gênio sobre-humano”. Estes dados foram colhidos no artigo de Antonio Gaspari: The Shadow of a Coin, em Inside the Vatican, October 1996, pp. 20s.


Fonte : Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb  - Nº 418 - Ano 1997 - Pág. 104

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