Estudos Marianos - Terceiro Segredo de Fátima - Parte III



S. João Paulo II – 2000: a “solução de compromisso”

Em 13 de Maio de 2000 João Paulo II renovou a temática apocalíptica que Paulo VI apresentara em Fátima 33 anos antes, ligando mais uma vez Nossa Senhora de Fátima ao Capítulo 12 do Livro do Apocalipse.

Na sua homilia, durante a Missa de beatificação de Jacinta e Francisco, João Paulo II declarou: Por desígnio divino, veio do Céu a esta terra, à procura dos pequeninos privilegiados do Pai,

uma Mulher revestida com o Sol” (Apoc. 12: 1). Fala-lhes com voz e coração de mãe: convida-os a oferecerem-se como vítimas de reparação, oferecendo-Se Ela para os conduzir, seguros, até Deus... “E apareceu no Céu outro sinal: um enorme dragão vermelho” (Apoc. 12: 3).

Estas palavras da primeira leitura da Missa fazem-nos pensar na grande luta que se trava entre o bem e o mal, podendo-se constatar como o homem, pondo Deus de lado, não consegue chegar à felicidade, antes acaba por destruir-se a si próprio... A mensagem de Fátima é um apelo à conversão, alertando a humanidade para não fazer o jogo do “dragão” que, com a “cauda, arrastou um terço das estrelas do Céu e lançou-as sobre a terra” (Apoc. 12: 4). A meta última do homem é o Céu, sua verdadeira casa, onde o Pai celeste, no seu amor misericordioso, por todos espera…


S. João Paulo II - Fátima - Beatificação de Francisco e Jacinta Marto

Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio aqui, a Fátima, pedir aos homens e às mulheres para “não ofenderem mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido”. É a dor de Mãe que A faz falar; está em jogo a sorte de seus filhos...118 Aqui encontramos provas daquilo a que Socci chama uma “solução de compromisso” sobre a revelação do Terceiro Segredo: uma homilia papal que revela indirectamente o seu conteúdo apocalíptico. Como já fizemos notar, a Irmã Lúcia também revelou que o Terceiro Segredo está relacionado com o Livro do Apocalipse. 

Em Fátima, João Paulo II não podia ter sido mais explícito. Mas, mais importante ainda, a associação que o Papa fez da Mensagem de Fátima com as “estrelas do Céu” a serem varridas pela cauda do dragão, que aparece nos versículos 3 e 4 do Capítulo 12 do Apocalipse, foi uma ligação inconfundível da Mensagem de Fátima à ameaça de apostasia na Igreja.

Como é que sabemos isto? Sabemos porque a queda de um terço das “estrelas do Céu” é interpretado tradicionalmente como significando a queda de almas consagradas. O Padre Herman B. Kramer discute a exegese tradicional no seu comentário ao Apocalipse, The Book of Destiny, cuja primeira edição, com um imprimatur, foi publicada providencialmente em 1956, apenas seis anos antes da abertura do Vaticano II.


Encontro de S.João Paulo II com a Irmã Lúcia - Maio 2000

Como o Padre Kramer assinala, o símbolo de um terço das estrelas do Céu significa “um terço do clero”, que “seguirá o dragão”. Por meio deste clero apóstata, o demônio provavelmente forçará na Igreja “a aceitação de uma moral não-Cristã, de falsas doutrinas, de compromisso com o erro, ou de obediência às autoridades civis em violação da consciência”. Além disso, “O significado simbólico da cauda do dragão pode revelar que o clero que está maduro para a apostasia está na posse de cargos de influência na Igreja, tendo obtido a promoção através de hipocrisia, engano e lisonja”.

Estes clérigos desviados incluem os “que descuidaram a pregação da verdade ou a admoestação dos pecadores através do bom exemplo, mas antes buscaram a popularidade sendo tolerantes e escravos dos respeitos humanos”, os “que temem pelos seus próprios interesses e não se opõem a práticas malignas na Igreja”, e os bispos “que detestam os sacerdotes virtuosos e que ousam dizer a verdade.”120 Este cenário parece certamente familiar aos Católicos do tempo presente, embora tivesse sido visto com espanto na década de 1950.

O Papa João Paulo II não podia deixar de estar a par do sentido tradicional das passagens apocalípticas que citou em Fátima e ligou à Mensagem de Fátima. O Papa só podia ter estado a evocar o mesmo que a Irmã Lúcia tinha dito ao Padre Fuentes: que a Mensagem de Fátima, na parte que devia ser mantida em segredo até 1960, nos avisa sobre uma deserção em massa de sacerdotes e religiosos sob a influência do demónio, e a consequente apostasia entre os fiéis que ficaram privados dos seus pastores. 

Recordemos as palavras da Irmã Lúcia: 

“O demónio sabe que os religiosos e sacerdotes que abandonam a sua bela vocação arrastam numerosas almas ao inferno.”121

Ora bem, a visão do “Bispo vestido de branco” não contém qualquer indicação de uma tal apostasia na Igreja. Não contém quaisquer palavras que possam explicar o seu conteúdo, a não ser a única palavra do Anjo, repetida três vezes: Penitência! É, portanto, razoável concluir que o Papa estava aqui a revelar indiretamente as palavras da Santíssima Virgem que explicavam a visão, tal como estão no texto do Segredo que ainda está para ser revelado. Socci sublinha que tanto a Irmã Lúcia como Paulo VI e João Paulo II ligaram o Terceiro Segredo ao Apocalipse, o que “não pode ser por acaso”, devendo antes indicar “uma ligação estrita entre o livro profético do Apóstolo S. João e o Terceiro Segredo.”


Resumindo, antes da publicação pelo Vaticano da visão do “Bispo vestido de branco” em 26 de Junho de 2000, já havia uma grande quantidade de provas de que o texto do Terceiro Segredo incluía:

Um “aviso divino” sobre alterações “suicidas” na liturgia, teologia e alma da Igreja (o futuro Pio XII em 1931); • uma predição de que, depois de 1960, “o demónio consegue deixar as almas dos fiéis desamparadas pelos seus chefes”, fazendo com que “religiosos e sacerdotes [abandonem] a sua bela vocação, [arrastando] numerosas almas ao inferno”, e que “muitas nações desaparecerão da face da terra” (a Irmã Lúcia ao Padre Fuentes em 1957); • um conteúdo tão “melindroso” que não podia deixar-se que “caísse, por qualquer razão, mesmo fortuita, nas mãos erradas” (Cardeal Ottaviani em 1967); 

• um texto “diplomaticamente” retido por causa da “gravidade do conteúdo”, e que prediz, para depois de 1980, “grandes trabalhos” e “tribulações” para a Igreja, que “já não é possível evitar”, e a destruição de “áreas inteiras da terra”, de modo que “milhões de pessoas morrerão de um momento para o outro” (João Paulo II em Fulda, 1980); • pormenores que podiam ser “mal interpretados” (João Paulo II em 1982); • uma “profecia religiosa” de “perigos que ameaçam a Fé e a vvida do Cristão e, consequentemente, o mundo” (Cardeal Ratzinger em 1984); • matéria que poderia levar a “uma utilização sensacionalista do conteúdo” (Cardeal Ratzinger em 1985); 

• uma predição de apostasia na Igreja que “começará pelo cimo” (Cardeal Ciappi em 1995); • “pormenores” que causariam “desequilíbrio” na Igreja (Cardeal Ratzinger em 1996); • um aviso de castigo material do mundo a acompanhar a grande apostasia da Igreja, como foi predito na aparição aprovada de Nossa Senhora de Akita em 1973, cuja mensagem é “essencialmente a mesma” de Nossa Senhora de Fátima (Cardeal Ratzinger a Howard Dee, como foi relatado em 1998); • um aviso para evitar a “cauda do dragão” (o demónio) a que se refere o Livro do Apocalipse (12:3-4), que varre a terça parte das “estrelas” (sacerdotes e outras almas consagradas) do Céu (das suas vocações) (João Paulo II em 2000).


Santo Padre Paulo VI - Peregrinação à Fátima


Continua - Parte IV - A mensagem de Nossa Senhora em Akita 1973



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