15 de Novembro - Solenidade de Todos os Santos da Ordem Carmelita

Todos os Santos Carmelitas - Santa Teresa de Ávila como Modelo.



Todos os santos carmelitas têm uma relação especial com Maria, a mãe de Jesus. E não poderia ser diferente, afinal de contas nós, os carmelitas, fazemos parte da família da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. Trazemos o nome de Maria expresso em nosso próprio nome. A origem de nossa Ordem está associada à pessoa de Maria. No séc.XIII ( o movimento das Cruzadas já está no fim) alguns ex-cruzados que viviam na região do Monte Carmelo (na Terra Santa) decidiram permanecer ali como eremitas. Pouco depois, em torno de uma devoção à “Senhora do Lugar” (era o título que os primeiros carmelitas atribuíram à Virgem Santa), resolveram espontaneamente trilhar um caminho juntos, tendo como motivação particular aquela devoção à Virgem Maria.

Portanto, podemos dizer que nascemos do amor que aqueles eremitas nutriam pela Virgem Santíssima.

No séc.XVI, quando a Ordem do Carmo (o Carmelo) já estava bem organizado e instituído na Europa (é bom recordar que os carmelitas já haviam migrado, há muito tempo, do Extremo Oriente para terras europeias), surgiu Santa Teresa. Teresa percebeu que o mosteiro em vivia já não tinha mais o vigor original. Toda a Igreja passava por um momento crítico. Era a época da Reforma Protestante, das inquisições, de maus exemplos das lideranças católicas, mas também de testemunhos belíssimos, como os de Teresa. Inspirada pelo Espírito Santo, ela reuniu um pequeno grupo de jovens piedosas que comungavam do mesmo ideal de viver uma vida mais simples e pobre.

Teresa de Jesus, ao empreender sua reforma no Carmelo reforçou a dimensão mariana da Ordem.

“Vi então realizada, de acordo com meus desejos, uma obra que eu sabia ser para o Senhor e para honra do hábito de sua gloriosa mãe” (V36,6)

No livro das Moradas (ou Castelo Interior), escrito por Santa Teresa, ela descreve como deve ser a relação das carmelitas com Nossa Senhora:

“E vós que o trazeis também louvai-O, pois verdadeiramente sois filhas dessa Senhora. Assim não tendes de vos perturbar por eu ser ruim, já que possuís tão boa mãe. Imitai-a e considerai a imensa grandeza dessa Senhora, bem como a vantagem de tê-la como padroeira.”

“Louvai-o…” : Sentimento de gratidão. Louvar, agradecer ao Senhor por nos ter dado como Mãe a sua própria. Gratidão é um sentimento próprio das boas almas. Saber agradecer é uma virtude que nasce do coração humilde que reconhece que tudo nos vem de Deus. Tudo o que temos e somos não é somente resultado do nosso esforço, mas em primeiro lugar, fruto da imensa misericórdia divina que nos envia muitos sinais da sua providência e bondade.

“verdadeiramente sois filhas desta Senhora…”: Teresa tem consciência de que as carmelitas (os carmelitas) são filhos e filhas da Virgem Maria. Para Santa Teresa, o Carmelo é propriedade da Virgem. Esta consciência da pertença, de pertencermos e fazermos parte das coisas que são próprias da Virgem Santa é afirmada por Teresa diversas vezes. O Carmelo é todo de Maria.

“não tendes de vos perturbar…” A perturbação nasce de um coração inseguro e duvidoso. O contrário da perturbação é a confiança. A confiança na materna proteção da Virgem deve gerar em nosso coração uma profunda paz. Se, de fato, acreditamos que ela é nossa mãe e não nos abandonará (como não abandonou seu Filho Jesus, pois quando todos os discípulos o abandonaram, ela continuou ao seu lado, de pé em frente a cruz) se acreditarmos que nas horas difíceis ela estará ao nosso lado, essa confiança fará com que os desafios e dificuldades que enfrentamos em nossa vidas sejam exatamente aquilo que são: nem mais, nem menos. Na maioria das vezes nos perturbamos porque consideramos nossos problemas grandes demais e não confiamos na nossa capacidade de resolvê-los.

“por eu ser tão ruim…” Como pode uma santa tão virtuosa, como Teresa, considerar-se “tão ruim”. Perfeccionismo? Falsa modéstia? Exagero de mulher? Nada disso. Teresa tem à sua frente um grande ideal e percebe que precisa caminhar sempre (de bom a melhor). Sente-se diante da grande aventura e ventura de seguir a Jesus, como uma aprendiz. Por ser uma mulher sábia, sabe exatamente onde estão suas limitações. Os santos são os que mais consciência têm de seus pecados.

“Imitai-a…” Devemos imitar a Virgem Maria em suas inumeráveis virtudes. Santa Teresa propõe com muita frequência em seus escritos, a Virgem Maria modelo de união com Deus, como exemplo de vida orante e como mestra de todas as virtudes. Para Teresa 4 virtudes são particularmente especiais na Virgem Santa: a fé, a caridade (amor), a humildade e a pobreza.

Essas 4 virtudes marianas precisam ser urgentemente resgatadas no mundo em que vivemos.

FÉ: A fé é algo que relegamos ao plano das decisões e opções particulares de cada pessoa. Cada um tem sua fé e quem não tem, tudo bem… A cultura tecnológica de nossos dias parece cada vez mais excluir Deus de nossas vidas. Muitas vezes sentimos que somos ridicularizados, em certos ambientes simplesmente pelo fato de sermos pessoas que professamos nossa fé. Parece que nossa opinião tem menos valor, ou carece de realismo porque defendemos nosso ponto de vista a partir da fé.

Por outro lado, estamos assistindo a tantas violências e injustiças justamente por conta de distorções daquilo que seja a verdadeira fé. Guerras e assassinatos em nome da fé, aumento de seitas que fazem verdadeiras lavagens cerebrais em seus adeptos, a transformação da religião como fonte de lucro e negócio altamente rentável, movimentos estranhos e fundamentalismos dentro e fora da Igreja.

CARIDADE: Quanto à virtude da caridade, vista como amor a Deus e amor ao próximo, é a síntese da vida cristã. Para Teresa, a caridade é tudo e nada se explica sem o amor (a Deus e aos irmãos, representa também o cume da santidade e manifesta a autenticidade da vida contemplativa. Para Santa Teresa, a caridade dá sentido a todas as coisas, como escreveu Paulo na Carta aos Coríntios (1Cor 13,4-13) e recomendava insistentemente que as suas filhas amassem umas às outras. Se não cumprimos o mandamento do amor, de nada vale a nossa consagração a Deus. Se não conseguimos nos amar então falhamos naquilo que é o mais básico e fundamental de nossa fé. Amar significa concretamente, ceder, ter paciência, perdoar, renunciar à vingança, ter compaixão, estar disposto a carregar a fragilidade do outro. Ver no outro o meu irmão e não um rival. A convivência comunitária (em nossos grupos, famílias, comunidades religiosas, no trabalho…) será muito mais feliz formos testemunhas desta caridade.

HUMILDADE: Para Santa Teresa, a humildade é a “rainha que derrota o Rei”, ou seja, Deus (o Rei) não resiste a um coração humilde. Foi pela humildade que a Virgem Maria atraiu os olhares de Deus para si. Deus é o primeiro humilde. Teresa define a humildade como caminhar em Deus. Ela diz: “Humildade é caminhar na verdade”. “Deus é a Suma Verdade.”

POBREZA: Deus se revela na pobreza. Talvez não estejamos encontrando a Deus porque o buscamos de modo errado em milagres estupendos, em coisas e situações arrebatadoras, em sinais extraordinários. Quem sabe Ele esteja gritando aos nossos ouvidos na pobreza e simplicidade do nosso cotidiano aparentemente batido e monótono. Quando o Cristo veio ao nosso meio pobre e despojado como uma criança, somente os pobres pastores conseguiram perceber o seu nascimento. Maria é a Virgem dos pobres, porque ela mesma viveu o abandono em Deus. Tudo o que ela possuía estava em Deus. Teresa, do mesmo modo abandona-se no Senhor. “Vossa sou, para vós nasci. Que quereis fazer de mim:” ou em outras palavras: “Que queres que faça, Senhor:” O coração do verdadeiro pobre nada possui, nem sequer a própria vontade, tudo o que quer é fazer a vontade de Deus… Foi isso o que nos ensinou Jesus: fazer a vontade do Pai é isso que nos ensina a Virgem Santíssima: “Fazei tudo o que Ele vos disser!”


Frei Marcos Matsubara
http://carmelotrindadegoias.com.br/

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