Domingo da Quinquagésima - 07 de Fevereiro de 2016 - "Que queres que te faça? - Senhor, que eu veja."
HOMILIA DOMINICAL - DOMINGO DA QUINQUAGÉSIMA
Leituras: Primeira Epístola de São Paulo Apóstolo aos Coríntios 13, 1-13.
Continuação do Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 18, 31-43:
Naquele tempo, tomou Jesus consigo os doze, e disse-lhes: Eis que
subimos a Jerusalém, e cumprir-se-á tudo o que os Profetas escreveram acerca do
Filho do homem. Porque aos gentios há de ser entregue, e será escarnecido,
açoitado, e cuspido; e havendo-O açoitado, matá-Lo-ão, e ao terceiro dia
ressuscitará. Eles nada entenderam, pois esse discurso era para eles obscuro; e
não entendiam o que lhes dizia. E aconteceu que, chegando Ele perto de Jericó,
estava um cego sentado junto ao caminho, a mendigar. E ouvindo muita gente
passar, perguntou que era aquilo. Disseram-lhe que passava Jesus Nazareno. Ele
clamou, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tende piedade de mim. E os que iam
adiante o repreendiam, para que se calasse. Ele, porém, cada vez mais clamava:
Filho de Davi, tende piedade de mim. Jesus parou e mandou que o trouxessem à
sua presença. E, quando ele se aproximou, interrogou-o com estas palavras: Que
queres que te faça? Ele respondeu: Senhor, que eu veja. E Jesus lhe disse: Vê,
a tua fé te salvou. E logo o cego viu, e O foi seguindo, glorificando a Deus. E
todo o povo, vendo isto, rendeu louvores a Deus".
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Quantos maus cristãos renovam nestes dias de carnaval o deicídio do povo
judeu! São Paulo diz que muitos crucificam Jesus de novo em si mesmos. Para
reconduzir esses pobres desvairados a melhores sentimentos, para os desviar de
tais orgias, excessos, e para os impelir à penitência, é que a Igreja, como boa
Mãe, lhes apresenta o quadro abreviado das dores e dos tormentos do Homem-Deus,
de que eles são a causa; e acrescenta a narração da cura do cego, a fim de os
impelir a suplicarem, do mesmo modo, a cura da sua cegueira espiritual. Oxalá
todos a ouçam e a regozijem com a sua docilidade.
Felizes os cristãos que nestes dias fazem o Santo Retiro! É na solidão e
no recolhimento interior que devemos meditar e saborear a Paixão. "Nada me
encanta tanto, dizia São Francisco de Assis, como a lembrança da Paixão do
Salvador; e, mesmo que eu vivesse até ao fim do mundo, não teria necessidade de
outra leitura".
O anúncio da Paixão é também uma dupla prova da divindade de Nosso
Senhor Jesus Cristo: mostra que Ele sabia antecipadamente todos os tormentos e
todas ignomínias da sua Paixão, e que ia ao encontro dela por sua livre
vontade; depois, deixava claro que vinha cumprir as profecias, e principalmente
as de Davi (Salmos XV e XXI), e também as de Isaías (L, 6 e LIII).
Notemos que Jesus Cristo prediz também a sua Ressurreição. Esta profecia
era como um raio de luz destinado a temperar a dor dos Apóstolos e a
fortalecê-los. Diz Santo Agostinho que Jesus quis mostrar-nos com a sua Paixão,
o que temos de sofrer por amor da verdade; e, com a sua Ressurreição, fez-nos
ver o que devemos esperar na vida eterna.
Mas, infelizmente, quantos cristãos à semelhança dos Apóstolos, não
compreendem nada das dores e da cruz de Jesus Cristo! As palavras de
penitência, de mortificação, de renúncia causam-lhes perturbações e espanto.
Lembremo-nos das palavras de São Paulo: "Se sofrermos com Jesus, seremos
também glorificados com Ele". Diz Santo Agostinho: "Toda vida do
cristão sobre a terra, se vive segundo o Evangelho, é uma cruz contínua".
Caríssimos, passemos para a outra parte bem distinta do santo Evangelho
de hoje: a cura do cego de Jericó.
Um cego sentado à beira do caminho, a mendigar: é a figura dos pecadores
que, cegos pelas suas faltas, já não veem a fealdade do mal nem a beleza do
bem; que estão despojados de toda a riqueza espiritual, reduzidos à pobreza
mais extrema , e privados da amizade de Deus; que mendigam os prazeres e os
bens tão enganadores do mundo, especialmente nestes dias de mais pecado, que é
o carnaval; estão sentados miseravelmente à borda do grande caminho da perdição
e da morte eterna, e não pensam em erguer-se nem em converter-se. Se a graça de
Jesus Cristo não viesse procurá-los, ali permaneceriam até à morte.
O cego, uma vez curado, seguiu a Jesus. Seguir a Jesus é amá-Lo de todo
o nosso coração, é prender-nos a Ele irrevogavelmente; é amar o próximo por
Deus e procurar fazer-lhe todo o bem; é imitar Jesus em tudo, e conformar o
nosso procedimento pelo seu; é observar os seus preceitos e os da sua Igreja, é
reproduzir em nós a sua vida e as suas virtudes.
Fazei, Senhor, que Vos sigamos sempre assim, durante a nossa vida aqui
na terra, a fim de que mereçamos ver-Vos, possuir-Vos e amar-Vos para sempre no
Reino da Vossa Glória. Amém!
Fonte: Zelo zelatus sum
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